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Cecilia Furquim lança Mulheres Salgadas
Temática feminina em poemas que mesclam a
busca do eu e do outro
vai na contracorrente do açucarado excessivo e
do óbvio
"Muitas mulheres habitam em mim/ muitas que sou
que dessou". É com esse verso que entramos no livro Mulheres Salgadas de
Cecilia Furquim, a ser lançado pela Editora Urutau no dia 14 de dezembro,
sábado, em evento na Tectônica Café.
Filha
do escritor João Carlos Marinho, falecido neste ano e autor do reconhecido
título infanto-juvenil Gênio do Crime, “Ciça”, como é chamada pelos amigos, inaugura
em Mulheres Salgadas a sua segunda publicação e a primeira para o público
adulto, depois do livro infantil “A coruja, o Gato
e os Filhotes”, lançado em 2014.
Depois desse seu primeiro livro de traduções
de canções infantis nonsense, a autora passou a direcionar o seu olhar, tanto
em suas pesquisas acadêmicas – a autora é doutoranda em Literatura Brasileira
pela Universidade de São Paulo – quanto à sua escrita, às demandas feministas e
aos grupos historicamente vulneráveis, o que influenciou a concepção de
Mulheres Salgadas.
Com a instabilidade política do país e
o impeachment de Dilma Roussef, além de coincidir com seu próprio momento
afetivo em meio a uma crise conjugal após 18 anos de casamento, a autora torna-se
mais consciente de sua própria vulnerabilidade e da de outras mulheres
diferentes das suas, quando começa a frequentar um coletivo feminista na
periferia.
Assim, em 2017, além de
mudar seu projeto de pesquisa de doutorado para a invisibilidade de mulheres
escritoras, Ciça passa a escrever uma poesia que mescla o confessional, de
procura do eu e da delimitação da identidade em relação ao outro, “que nos tira
do eu e nos devolve ao outro, ao que nos circunda, o que nos toca, nos
sensibiliza”.
A
relevância do livro se dá pela abordagem das questões que enfrentam a mulher atual
através da poesia, como “as amarras da relação monogâmica, a soltura da relação
aberta, o vínculo de abandono e ciúme, as influências hormonais, as fixações
afetivas, os abusos, cuidados, heranças familiares, a doença, a desrazão (como
desopressão) e o insólito real e imaginário”.
Tudo isso por meio de versos
que surpreendem com o uso de quebras ostensivas e nas relações de aliteração, assonância, metro e alguma rima, mas sem regularidade.
“Isso me encanta no trabalho com a palavra, o uso e a quebra disso”, diz Ciça.
No
livro, “a mulher engajada politicamente cede espaço para a que quer ser amada e
busca o amor, colocando em tensão o imaginário do empoderamento e o coração
amoroso, que cede, espera, palpita”, palavras da poeta Diana Junkes que escreve
no pósfacio.
Para
ilustração do livro, foi escolhida a produção da artista Lúcia Hiratsuka, que
criou traços de sumiê delicados e com uma dose de mistério.
Para quebrar este
“mulherio concentrado”, a orelha foi feita pelo olhar atento do poeta Diogo
Cardoso além da visão do editor Tiago Fabris Rendelli. Além
disso, a publicação também acompanha um link com uma canção que dialoga com o
livro, composta e cantada por Ciça, com arranjo de
Carlinhos Antunes e instrumentação dele, Ruy Barossi e Duca França.
Assim, com esta presença ostensiva do feminino e pela quebra dele, o livro de Cecilia
Furquim vai, como disse Diana, “na contracorrente do açucarado excessivo e do
óbvio” e de uma apreciação restrita a um público somente de mulheres. É um
livro contundente, sensível e desperto às glórias e agruras de habitar diversas
mulheres em um corpo de mulher experiente e repleto de desejos nos tempos de
instabilidade e indiferenças institucionalizadas.
Mulheres
Salgadas
Muitas mulheres habitam em mim/ mulheres que sou/ que dessou/ mulheres
que amam/ como minha mãe/ mulheres que sonham que amam/ como minha moça/ mulheres
que não foram/ amadas/ mulheres que foram/ abusadas/ mulheres/ colecionadas/ mulheres/
mortas/ mulheres que não são/ mulheres/ mulheres que amam/ mulheres/ que/
ressentem/ mentem/ dementem/ desamam/ desarmam/ eu as acolho/ nesse multímodo/
molho.
Serviço:
Lançamento de Mulheres Salgadas, por
Cecilia Furquim
Dia 14/12, sábado, a partir
das 18h, no Tectônica Café - localizada na R. Min. Ferreira Alves, 686 - Pompeia,
São Paulo.
Programação:
18h - 19h: conversa entre as autoras Isabela Sancho (livro "Monstera), Cecilia Furquim (livro "Mulheres Salgadas) e Lúcia Hiratsuka (livro "Mulheres salgadas) sobre poesia e imagem. Mediação de Camila Assad
18h - 19h: conversa entre as autoras Isabela Sancho (livro "Monstera), Cecilia Furquim (livro "Mulheres Salgadas) e Lúcia Hiratsuka (livro "Mulheres salgadas) sobre poesia e imagem. Mediação de Camila Assad
19h - 22h: lançamento e
assinatura dos livros pela autora.
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R$ 40,00 (preço do livro)
Dinheiro ou cartão
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R$ 40,00 (preço do livro)
Dinheiro ou cartão