segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Grupo Religare

































TRECHO DA MONTAGEM – ‘MUTATIS’




DO PONTO DE CULTURA DO RELIGARE
POEMAS E COREOGRAFIAS

Eu tenho um sonho, uma meta a seguir! Sonho em um dia ver a paz, a alegria, a vida, a perseverança, ver tudo de bom que o ser humano prega, mas não cumpre. Não quero ver mães chorando e jovens morrendo, não quero ver o moleque pedindo esmola no farol, nem o mendigo que perdeu o caráter, pelas circunstancias em que vive. Não quero mais ver o descaso com os aposentados, nem a tia que pela falta de emprego vende droga na favela, não quero mais ver as ruas banhadas de sangue, nem a criança inocente morrendo no assalto na troca de tiros.
Não quero mais ver aquela cena: Armas sendo engatilhadas, barulho de carros derrapando, vidros estilhaçados, tiros, gritos, choro, sangue, dor... E por que? Pelo descaso, a falta de oportunidade,e de infra-estrutura da periferia, culpa do modo de vida que o povo se acostumou a levar e culpa de nós mesmos, pois se nos ajudarmos, se nos unirmos, quem sacará as armas?
Meu sonho é ver informação, conscientização, cultura e arte, na vida de cada cidadão brasileiro. O caminho para meu sonho? É o caminho, da escuridão para a luz... O caminho para confundir os sábios que se dizem sábios, pois se fossem sábios, saberiam que não se deve julgar...
Sonho em ver um dia, a humanidade tirando sua máscara, e dando o máximo de si mesmo.
Eu vivenciei o crime, as drogas,a maldade, a morte. Quero viver coisas novas. O meu crime, será lutar,contra as estatísticas. A droga que vou vender, será o sorriso no rosto de cada criança. Minha maldade, será convertida em alegria, e a morte será vencida pela vida em minha vida...
Não sou exemplo, só quero ter coragem para que meu sonho mude a minha vida e a de muitos...
Eu tenho a família, tenho os parceiros, e tenho fé.
A minha paz é o resultado da guerra, guerra contra a maldade e a insanidade.
Eu sonho... Eu sonho em ser palhaço! Sou mais um palhaço triste, que pretende sorrir, representar e viver...
Meu nome é... (TIRAM A MÁSCARA E DIZEM MUITOS NOMES)
AUTOR – DANILO FERNANDES

A noite acabou. Não somos nada além do que somos. Todos os desejos saem de cena, para dar lugar à pura essência do ser humano, para dar lugar apenas ao que existe em nós desde que nascemos, mas quando chega o dia o cotidiano que nos corrói, invade nosso ser, as injustiças nos chocam, as horas nos sufocam e tudo, tudo o que o ser humano sonha se desfaz. Mas, para alguns, o sonho não se apaga e mesmo em meio ao dia, fortes como rocha, permanecem de pé.
Pessoas assim, são as imprescindíveis, pois lutam uma vida toda, e se realizam. Poucos imprescindíveis ainda resistem, pois a maioria, se acostumou com o dia, e se esqueceu do sonho que sonhou durante a noite.
AUTOR DANILO FERNANDES


O que aconteceu conosco? Nos acostumamos com a desigualdade?
Pensem, reflitam nessas humildes palavras, pois se o ser humano não refletir, nunca mais veremos o brilho da noite.
Que fazer quando tudo parece perdido?
Que fazer quando desaparece a esperança?
Como lutar se já não tem força? Como escapar das armadilhas do mundo?
Porque culpar a vida, se a vida é tão bela?
Porque preferir aceitar as mentiras? Será que é pior procurar a verdade? Será que esquecemos o que é a justiça?
Prefiro continuar acreditando nos sonhos, acreditar que ainda existe saída. Difícil mesmo é continuar como estamos: miséria, fome, crime, castigo, corações que não batem mais, sonhos que vão embora antes da hora, crianças deixadas pra trás.
É preciso fazer algo, mas o que?Sei que existe saída, e encontrá-la não é difícil. Todos temos consciência, todos temos coração. Usar a consciência e pensar com o coração.
Temos a fórmula, temos os ingredientes, agora, só é preciso saber como utilizar tudo isso. E para conseguir usar esta formula é preciso atitude. Quando isso for possível, não perguntaremos mais:
O que fazer?
AUTOR PETERSON XAVIER

Tem gente por aí vivendo que nem bicho
Fuçando comida na lata do lixo
Tem gente por aí vivendo que nem bicho
Fuçando comida na lata do lixo
Irmã gêmea da loucura
Dos gritos na noite escura
É gente dormindo debaixo do viaduto
E comendo a parte mais podre do fruto
É gente que nem parece que é gente
Mas que a gente sabe que é gente
É gente que nem parece que é gente
Mas que a gente sabe que é gente
Tem gente por aí vivendo que nem gente
Guardando seu ouro a unha e dente
Tem gente por aí vivendo que nem gente
Guardando seu ouro a unha e dente
Trancando as portas sem saber que na rua
Sangra exposta a ferida sua
É gente engordando por cima do Fruto
E atirando a parte mais podre no lixo no lixo
É gente que até parece que é gente
Mas que a gente sabe que é bicho
É gente que até parece que é gente
Mas que a gente sabe que é bicho
AUTOR EDVALDO SANTANA

Somos aqueles que acreditamos e lutamos por um ideal, e sem dúvida somos vencedores.
Sabemos que as batalhas da vida são muito difíceis, mas mesmo assim continuamos sonhando.
E graças a esses sonhos nos tornamos cada vez mais fortes para enfrentar essas batalhas e essas batalhas nos dão a oportunidade de acreditar nos nossos sonhos!
AUTOR PETERSON XAVIER

Pobre país, pacato, pacífico, perdido pela podridão do poder, por políticos passivos.
Política, policia, palácio, palanque...Pura palhaçada.
Presos pobres, pancada, porrada, pólvora, pânico, pescoços pisados, peito palpitando pouco perfurado pelos patifes.
Pelotões, piquetes! Pra quê? Pra proteger? Pra prender!
Prostitutas! Preço pago? Pouco.
Parem, pensem! Por que permanecem políticos pérfidos possuindo poder? Prepotentes, preconceituosos.
Pergunto: Por que permitimos? Parecemos pelegos. Precisamos parar. Protestar, pois parece piada.
Perecemos pouco a pouco. Procuremos panacéia. Precisamos pelejar, permanecer poeta.
Paralisar poderosos, palmatória para pilantras, poder para o povo pobre. Procuremos a paz.
Precisamos permanecer passeando pela penumbra?
Não!!!
AUTOR PETERSON XAVIER

Como o mundo mudou. Não vejo mais as crianças sujas na praça da sé.
Álcool e drogas parecem ter desaparecido.
Isso é estranho!
Policiais tratando as pessoas com educação, Políticos honestos, Onde está toda aquela podridão?
Isso é muito estranho!
Onde estão os malabaristas do farol? O que? Em uma escola de arte? Isso está cada vez mais estranho!
Eu conheço aqueles homens sentados no “café”. São mendigos que ontem imploravam por um pedaço de pão, e hoje se fartam em um café!
Isso com certeza é estranho, mas é muito bom!
Não ouço mais o “neoforró”, o “axé music”, onde está a éguinha pocotó?
Isto está muito bom, e muito estranho!
Esperem! Ouço um som diferente! Que barulho é esse?
(Todos simultaneamente imitam o som de um despertador: pipipipi)
Ops!É meu despertador! Já é hora de acordar. Sabia que havia algo de estranho!
Estava bom demais pra ser verdade!
AUTOR PETERSON XAVIER

Agora o menino dorme, na sua postura correta
Sozinho na noite enorme, como quem dorme de forma completa
Por não ter havido outro jeito senão crescer depressa e a esmo
Na escola da rua e ter feito de si o indefeso refém de si mesmo
Por não ter havido diferença entre as coisas da vida e da morte
Foi morto com bala de polícia, mas podia ter sido de crack ou de corte
(O elenco repete o texto a seguir diversas vezes como se fizessem uma oração)
Passarinho não cantou nessa madrugada, foi um jeito que ele arrumou pra ser camarada.
AUTOR EDVALDO SANTANA

(Música. Incelença o ator/atriz que está no centro e disse o ultimo texto iniciará uma coreografia os demais cantam)

Uma incelença entrou no paraíso, adeus irmão adeus, até o dia do juízo adeus irmão adeus, até o dia do juízo

(música. O elenco caminha pelo palco e posiciona-se para ultima coreografia)

Não tenho vergonha de dizer o que sou
Fui interno da FEBEM e hoje sou um vencedor
Eu um dia errei mas estou recuperado
Não faço as mesmas coisas que fazia no passado
Sou bem diferente do que a mídia mostra
Quer saber como mudei?
Essa é a resposta
Eu fiz curso de teatro e ganhei sabedoria
Feios, Sujos e Malvados, essa é a minha companhia.
Feios, Sujos e Malvados, Feios, Sujos e Malvados, Feios, Sujos e Malvados.
Aprendi a representar e também a respeitar
Aprendi o que é certo e pretendo não errar
Hoje sou ator e também sou cantor
E nunca deixei de ser sonhador
Sou ator, sou palhaço, disso tudo um pouco faço
Sou cantor malabarista, sou feliz eu sou um artista.
Faço tudo com esforço e também com muito amor,
E tenho muito orgulho pois eu sou um vencedor.
Feios, Sujos e Malvados. Feios, Sujos e Malvados. Feios, Sujos e Malvados.
Vivo com a arte dentro do coração
Feios, Sujos e Malvados essa é a minha união
Vivo no teatro e no meio musical,
Hoje a minha vida é muito mais legal.
Feios, Sujos e Malvados. Feios, Sujos e Malvados. Feios, Sujos e Malvados.
AUTOR PETERSON XAVIER








- O grupo ‘Religare’ nasceu dentro da FEBEM/SP nas atividades de teatro. Seus integrantes participaram das várias apresentações de NUM LUGAR DE LA MANCHA – AMORES E AVENTURAS DE DOM QUIXOTE. O espetáculo ‘MUTATIS’ conta a trajetória dos jovens envolvidos no grupo desde os “tempos sombrios” (quando em medida sócio educativa) até os “Tempos de Transformação” (a partir da arte). Seus questionamentos e seus sonhos traduzidos para a linguagem do teatro são um relato de coragem que gerou uma estratégia de enfrentamento à oferta da marginalidade.





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