sexta-feira, 11 de abril de 2014

Florestan Fernandes e as Mudanças Sociais

Resenha apresentada ao 'Programa de pós graduaçao em literatura brasileira'
 Disciplina: O narrador na Literatura Brasileira. Formas narrativas e mudanças sociais (1960-2000) 
Prof. Jaime Guinsburg          USP – FFLCH – DLCV           01/08/2010
Cecilia Silva Furquim Marinho


FLORESTAN FERNANDES
E AS MUDANÇAS SOCIAIS


As ideologias ‘explicadoras’ do Brasil sofreram, segundo Dante Moreira Leite, uma virada nos anos 50 e Florestan Fernandes foi um dos representantes deste momento. Leite sustenta, em seu O Caráter Nacional Brasileiro[1], que até então os ensaístas, historiadores e teóricos que procuravam interpretar a condição do país tendiam a colocar explicações psicológicas como determinantes do desenvolvimento histórico e social.   A virada mencionada inverte a equação e desloca o desenvolvimento histórico social de consequência para causa de tendências comportamentais. A metodologia de análise sociológica passa a ser menos atraída pela formulação intuitiva de grande impacto e mais comprometida com padrões científicos, afetando não só os esquemas de pensamento como também a linguagem utilizada em sua veiculação, valorizando a precisão vocabular.  

Gilberto Freire e Sérgio Buarque de Holanda precederam esta virada, contribuindo com uma forma de análise em transição, ainda ligados a influências psicológicas, porém antecipando algumas das conquistas de Florestan e sua geração, no que se refere à lucidez de análise de alguns aspectos do processo de formação da sociedade.  No entanto é a geração de Florestan quem trará uma inovação mais radical produzindo um estudo aprofundado e minucioso das características sociais de nosso país sob bases preponderantemente científicas e, no caso de Florestan, a partir de uma perspectiva ética fortemente descompromissada com as classes dominantes, contribuindo para o desmascaramento de processos de manipulação social e política.

O livro de sua autoria que será aqui analisado, Mudanças Sociais no Brasil, é de 1960 e foi reeditado em 1974. No prefácio à primeira edição, Florestan afirma que o trabalho possui estudos variados em temas, estilos, diretrizes de pensamento e preocupações; tendo sido escritos entre 1943 e 1959. Já antecipa uma categoria importante ao longo de suas reflexões: a diferenciação de duas estruturas que coexistem no Brasil, a arcaica no campo e a evoluída nas cidades ou algumas zonas rurais do Sul. Essa dupla existência pressupõe um grupo dominante que procura prolongar o passado em seus pressupostos morais e ideológicos, por um lado, e forjar o futuro por outro.  A metodologia que será adotada pelo sociólogo para análise é também explicitada no prefácio como sendo o estudo sincrônico do presente de várias comunidades, associando conhecimento empírico a fórmulas gerais e sua regularidade.

Além do prefácio, o autor escreveu uma introdução denominada “Atitudes e motivações desfavoráveis ao desenvolvimento”, que será deslocada para o posfácio na edição de 1974. Ao reeditar o trabalho em plena ditadura, o autor considerou importante usar outra introdução que pudesse contextualizar as reflexões do livro a partir da perspectiva política que se operou com o regime militar. De qualquer forma a primeira introdução se manteve no final do livro por conter importantes considerações a respeito da forma como a sociedade de classes se estrutura num país periférico como o Brasil, em contraste com a forma que ocorre nos países hegemônicos. Segundo ele, as atitudes humanas da ordem capitalista se estabelecem a partir das necessidades da sociedade de classes. Como trata-se de uma ordem individualista e competitiva, os indivíduos ficam em tensão com os outros, num equilíbrio instável, já que há incongruência entre moral e organização e os mecanismos de ajuste social são contínuos. De acordo com a teoria de Marx o conflito é um fator de desenvolvimento social; a classe dominante se mobilizaria para defender o status quo enquanto a classe subordinada procuraria alterá-lo. Florestan cita então Freyer e Mannheim no aprofundamento deste conceito ao afirmarem que o poder revolucionário do conflito perde a eficácia e impossibilita a mudança social espontânea, ficando ela restrita aos casos em que puder ser dirigida e provocada de forma racional. As possíveis reações de inconformação à desigualdade tendem a ser sufocadas ou restringidas pelo uso da propaganda e manipulação que criam fatores de conformismo, identificados pelo sociólogo como sendo um quadro de atitudes irracionais[2]. Nos países subdesenvolvidos a coexistência da estrutura arcaica de castas e da sociedade moderna de classes implica na importação prematura de técnicas, instituições e valores sociais, gerando descompasso que intensifica o quadro irracional, se comparado ao desenvolvimento dos países hegemônicos.

No capítulo que trata dos “obstáculos extra econômicos à industrialização no Brasil” (escrito em 1959[3]), essa ‘importação prematura’ é retomada ao expor os problemas da expansão da nossa empresa industrial. Tais problemas viriam a desgastar energias sem produzir bons resultados. Muitas interpretações do Brasil de gerações anteriores especulavam que a causa de tais insucessos seriam provindas da ‘inferioridade’ do mestiço, ou de peculiaridades das raças, de inclinações à preguiça, moleza, falta de fibra do brasileiro. Segundo Florestan a causa seria bem diversa: “sempre o seu horizonte intelectual permaneceu acanhado, estreito e impotente diante de um destino histórico social captado por transplantação.”[4] A interação com a máquina exigiria modelos de pensamento racionais que a sociedade só desenvolve com lentidão, ao passo que estaríamos mergulhados em modelos ‘pré-urbanos, pré-industriais, pré-mecânicos’ de organização da vida, como podemos observar em poema de Drummond, de 1926:
“No elevador penso na roça
  Na roça penso no elevador”[5]

O desajustamento do brasileiro é, para o sociólogo, do tipo “funcional”, e pode ser corrigido com experiências socializadoras. São exemplos de aspectos que estimulam o quadro irracional: a falta de humanização na forma de tratar o trabalhador, padrões de mando e obediência da sociedade patrimonialista, o afã do ganho, a necessidade de afirmar-se pela ostentação, a falta de incentivo da educação científica e formação de profissionais qualificados, a utilização do ‘nacionalismo econômico’ para esconder interesses particularistas, uso do poder para criar uma ideologia do ‘progresso econômico’ como símbolo apenas, com fim em si mesmo e defendido a qualquer preço, como a tolerância para importação de equipamento obsoleto, uso de política protecionista sem aplicação de lucros em fins produtivos e outros mecanismos.

Na nova introdução, feita especialmente para a edição de 1974[6], Florestan acentua que sentiu necessidade de incluir uma discussão que ganhou importância depois do lançamento do livro: a questão da dependência e do subdesenvolvimento.  Ao falar da dominação burguesa, frisa a pressão interna das classes dominantes que utilizam uma máscara patriótica e democrática e ocultam autocracia sem limites; incluindo também a pressão externa das nações hegemônicas e seu imperialismo. A relação dessa burguesia com o Estado procura impor os privilégios de classe como sendo ‘interesses da nação como um todo’, bem como usar o Estado como arma de opressão e repressão. Diante do desgaste de certas propagandas (‘autonomia nacional’, ‘democracia liberal’, ‘nacionalismo econômico’), outros conceitos são forjados, como o de ‘segurança nacional’, ‘milagre econômico’, ‘democracia forte’. Conclui que o controle que mais facilmente garante espaço político e o ajustamento com países hegemônicos é obtido pela ditadura, e foi exatamente isso que vivenciamos, tendo o autor sofrido perseguição com sua aposentadoria compulsória da universidade. O cientista social sugere, neste momento, que a única forma de rompimento desse estado de coisas seria a revolução socialista. Sua prévia crença no trabalho de sociologia crítica como impulso de conscientização e de mudança gradual dos horizontes intelectuais mostrou ser uma ‘utopia’.

Nos capítulos seguintes, outros aspectos são investigados, como por exemplo a constatação de que falar em crise da democracia no Brasil não seria o termo adequado, já que o Brasil democrático ainda não se constituiu, estaria em processo de elaboração, numa etapa inicial (texto de 1954[7]). Nesse processo verificou-se que os grandes movimentos da vida política, como a independência, a república, a abolição da escravatura, não receberam apoio nem inspiração popular, ocorrendo à revelia dessas camadas da população. Como saída para o estabelecimento de uma estrutura social democrática, ele aponta a importância da competição dos partidos e da influência positiva dos partidos populares. A reforma educacional no sistema como um todo também seria uma necessidade premente. Ao falar dos efeitos da nossa colonização (texto de 1946)[8] ressalta a forte herança cultural do Português e do desenvolvimento contrastante do litoral e do sertão, lembrando a característica etnocêntrica do habitante litorâneo ‘civilizado’ e a manutenção do elemento folclórico no sertão. Fala, em texto de 1954[9] da identificação emocional com os países europeus, e em texto de 1959[10], da realização incompleta ou deformada dos modelos europeus e das possibilidades de cooperação que pode ocorrer entre Brasil e países do Oriente, que possuem situação subdesenvolvida similar. Em outro texto de 1954[11], comenta a formação da cidade de São Paulo, em que a vila primeiramente fora um apêndice do campo para aos poucos atingir autonomia e desintegrar sua ordem arcaica, despovoando o campo. Atinge posição dominante em relação ao litoral, centralizando os contatos com o mercado externo, porém guardaria ainda alguns traços da organização rural, como a nostalgia da vida heroica do passado e o respeito pelas tradições. Em texto de 1948[12], analisa o povoamento de São Paulo, através das alianças do Português com os Tupiniquim. Em texto de 1959[13], aponta o caráter desordenado de São Paulo, que propicia imensa desigualdade de distribuição de renda, coexistência de luxo e pobreza, por um lado; e o grande número de oportunidades de enriquecimento e ascensão social, por outro, através de notável desenvolvimento da classe média, o que confere equilíbrio à sociedade de classes. Segundo ele, a proletarização dos moradores pobres intensificou a desintegração da cultura popular. Também ressalta no desenvolvimento da cidade a substituição do voto de cabresto pela ‘demagogia’ para garantir a manipulação da população e manutenção dos privilégios.

Carlos Guilherme Mota, em seu livro Ideologia da Cultura Brasileira, identifica Florestan Fernandes, juntamente com Antonio Cândido, como sendo representantes do pensamento radical, sendo que Florestan criaria um “curto circuito de conceitos precisos”, enquanto Cândido operaria um “percurso dialético entre literatura e sociedade[14]”, ambos criando espaços novos. Segundo ele, Fernandes se manteria distante de posições nacionalistas (do grupo do ISEB), posições desenvolvimentistas (de Celso Furtado) e do populismo. Em especial, no contexto dos anos 60 e 70, é esclarecedora a atenção que o sociólogo voltou às atuações populistas criadoras de um vínculo com o povo sem a verdadeira intenção de ajudá-lo a sair de sua condição explorada e de grande miséria. Seu alerta dado ao uso da demagogia, da propaganda, para anular as reações inconformadas da população chama a atenção pela sua continuidade até hoje, com variações no discurso e substituição de velhas palavras de ordem por outras ainda preservadas de desgaste. Podemos analisar numa obra teatral dos anos 70[15], como esta forma de manipulação foi representada:

Jasão:       Não fique pensando que o povo é nada,
                  Carneiro, boiada, débil mental,
                  Pra lhe entregar tudo de mão beijada
                  Quer o que? Tirar doce de criança?
                  Não. Tem que produzir uma esperança
                  De vez em quando pra a coisa acalmar
                  E poder começar tudo de novo
                  Então, é como planta, o povo,
                  Pra poder colher, tem que semear,
                  Chegou a hora de regar um pouco
                  Ele já não lhe deu tanto? Em ações,
Prédios, garagens, carros, caminhões,
Até usinas, negócios de louco...
Pois então? Precisa saber dosar
Os limites exatos da energia
Porque sem amanhã, sem alegria,
Um dia a pimenteira vai secar
Em vez de defrontar Egeu no peito,
Baixe os lucros um pouco e vá com jeito,
Bote um telefone, arrume uns espaços
Pras crianças poderem tomar sol
Construa um estádio de futebol,
Pinte o prédio, está caindo aos pedaços
Não fique esperando que o desgraçado
Que chega morto em casa do trabalho,
Morto, sim, vá ficar preocupado
Em fazer benfeitoria, caralho!
Com seus ganhos, o senhor é que tem
Que separar uma parte e fazer
Melhorias. Não precisa também
Ser o palácio da Alvorada, ser
Páreo pr’uma das sete maravilhas
Do mundo. Encha a fachada de pastilhas
Que eles já acham bom. Ao terminar,
Reúna com todos, sem exceção
E diga: ninguém mais tem prestação
Atrasada. Vamos arredondar
As contas e começar a contar
Só a partir de agora...
Creonte:                                                         Enlouqueceu!
...
Jasão:                                           O senhor vai tomando
                                    Essas providências que reacende
                                    A chama. Vai ver que o trabalho rende
                                    Mais, daí eles ganham confiança,
                                    Alimentam uma nova esperança,
                                    O moral se eleva, a tensão relaxa...
                                    Aí é que o senhor aumenta a taxa
                                    Com as melhorias eles vão ter
                                    Energia bastante pra mais dez
                                    Anos, Dez anos passam sem doer,
                                    Sem jogar pedra e sem bater os pés
                                    Em um ano só, um ano de aumento
                                    Na taxa, o senhor vai buscar, com sobras
                                    O dinheiro, gasto no empreendimento:
                                    No telefone, no jardim, nas obras,
                                    No perdão às prestações em atraso...
                                    Agora, se quiser ver, por acaso,
                                    Quem ganhou nesta simples transação
                                    É só contar. Eles lhe dão dez anos,
                                    O senhor dá um só pelos meus planos...
                                    Fica com nove, a parte do leão.

As melhorias mencionadas no texto de Jasão oferecem benefícios superficiais para manter o vínculo entre o dono do condomínio e os compradores endividados na busca de sua casa própria. Eles continuariam a trabalhar muito para pagar o imóvel, com uma margem de lucros que só beneficiaria o empresário, e teriam a ilusão de que o esforço seria compensado pelos benefícios.  São medidas populistas, já que o termo ‘populismo’ indica algo “fundamentalmente conciliador ...  raramente revolucionário.”[16], que “exclui a luta de classes[17]”. Também o termo foi utilizado por Roberto Schwarz, para criticar os movimentos culturais de reação à ditadura militar, como o Arena, o Opinião. Em “Cultura e Política – 1964-1968”, o crítico sugere que esses movimentos, ao proporem uma conciliação entre as classes média e as classes destituídas estariam superficialmente interessados na distribuição de renda e na democratização do poder e dos privilégios, mas evitando assumir o radicalismo de um conflito de classes que exigisse o abandono de suas posições confortáveis. Para ele o resultado dessa conciliação enganosa somente contribuiu de alguma forma para que o regime endurecesse na sua repressão e nas suas formas autoritárias, culminando com o AI5. Daí sustentar que a reação dos grupos teatrais seria uma forma de populismo demagógico de esquerda[18]. Isso indica que tanto os setores conservadores da classe média, como também os setores de esquerda, tendem a se identificar com as classes dominantes e as apoiar, ainda que inconscientemente, sendo vítimas de mecanismos populistas deturpadores da realidade.

Outra questão trazida por Florestan em seus estudos das mudanças sociais, que até hoje exige reflexão e preocupação é a violência disfarçada ou assumida que acompanhou esse processo de manipulação.  Segundo ele, ao falar da coerção evidente do estado forte e autoritário que se deu no regime militar, lembra que essa coerção sempre existiu, mesmo em momentos de abertura liberal democrática anterior, sob formas mascaradas, disfarçada por detrás dos mecanismos irracionais. Nancy Baden, em The Muffled Cries[19], também faz referência a esta violência disfarçada ao analisar o papel do escritor no contexto da ditadura de 1964-1985. Mostra que suas resistências e questionamentos políticos foram devidamente reprimidos, assim como havia acontecido nas ditaduras anteriores de Vargas, indicando que essa repressão persistiu depois de formas menos evidentes nos períodos de democracia, para voltar na ditadura seguinte, atestando então, no campo das letras, a herança autoritária constitutiva do Brasil, tanto assumida, quanto disfarçada. Prosseguindo no tempo, a reflexão recebe contribuição de Paulo Sérgio Pinheiro, no texto “Autoritarismo e transição[20]”, em que analisa a situação do país quando houve a abertura política, a partir dos anos 80, mostrando que aquele mascaramento de métodos autoritários apontado por Fernandes e sugerido por Baden volta a se realizar plenamente em épocas democráticas recentes, com formas de manipulação que garantem a continuidade do aparelho repressor, presente na violência de microdimensões do poder. São exemplos desses micropoderes repressores a cultura policial de tortura, as chacinas, o racismo nas relações pessoais e outros. A violência ilegal continuou com tolerância e impunidade ficando a sua crítica restrita ao discurso e inexistente nas ações concretas de desestabilização de suas práticas.

Um exemplo recente de entrevista de 29/05/2010[21], que atesta tanto a continuidade da violência nos dias atuais como sua necessidade de passar desapercebida, está nas declarações do coronel Admir Gervásio Moreira que assumia então o posto de novo corregedor da polícia militar de São Paulo. O coronel em questão tinha como missão sanar problemas constatados na polícia: responsabilidade por 40% da letalidade a mais no primeiro trimestre de 2010, em comparação ao mesmo período em 2009. Além disso precisava apurar os casos de policiais que haviam, juntamente com a sua equipe, torturado e assassinado motoboys de ascendência negra sem nenhum motivo aparente. A própria escolha do coronel para o posto foi planejada para criar um efeito aparente de moralização, já que ele é negro. A comunidade esperaria então que ele não assumisse nenhuma identificação com as práticas racistas da instituição policial. No entanto, em suas declarações ele nega que essas práticas existam e explica os acontecidos como sendo fruto de casos isolados de membros da instituição, fechando os olhos para a recorrência assustadora desses ‘casos isolados’.   Demonstra em suas declarações estar totalmente compromissado com a defesa de uma instituição violenta e racista, a despeito disso ser contra sua própria origem. A atitude de negação e mascaramento indica que a possibilidade dessas práticas terem uma modificação consistente são mínimas:
...
Folha - Não se ouvia falar de grupos de extermínio formados por PMs, como "Os Highlanders". Esses casos já existiam e a gente não sabia disso?
Moreira - São casos pontuais. É conduta individual. Não é conduta institucional. Não podemos dizer que dentro da polícia existe isso. Dá uma conotação de que está instituído.
Não concordo. [São] Pessoas, com problemas graves, que não têm nenhum compromisso institucional.
...

Folha - Essa é uma questão que não preocupa o sr.?  (a do aumento de 40% da letalidade)
Moreira - Em princípio, não. Estamos equivalentes. De todos os confrontos, por exemplo, em que há quatro indivíduos, um é baleado e três são presos. Nós não estamos mais agressivos. Muito pelo contrário. Nosso oponente é que está muito mais ousado, mais agressivo. Nós estamos prendendo muito mais do que matando.
...

Folha - A PM é racista?
Moreira - Não concordo piamente. Vamos tirar a figura do policial. Seria hipócrita se dissesse que não há racismo no Brasil. A instituição PM não é racista.
Se verificar o nosso efetivo quase 140 mil homens e mulheres, da ativa e da inatividade, acredito que mais de 30% sejam negros ou têm a raça negra na sua origem. A instituição não é racista. O racismo está em cada pessoa.

Folha - O sr. já foi abordado pela PM estando de folga?
Moreira - Já fui, e o tratamento não foi discriminador. Trataram-me com dignidade. Eu já sofri discriminação em colégio, em internato, administrado pela Igreja Católica.

Folha - Ficou com trauma?
Moreira - Não, meu intelecto é muito superior a isso. A minha formação de berço não deixou que eu incurtisse isso. É do berço que as pessoas aprendem a ser preconceituosas.

Folha - Pelo cargo que ocupa, o sr. se protege de forma diferente?
Moreira - Não vejo necessidade. Se tivesse algum temor, não aceitaria o cargo. A grande maioria, 99,99% são bons policiais, honestos, dignos, legalistas, humanistas. Esses me protegerão.

Folha - Qual missão o sr. recebeu?
Moreira - Dar agilidade às investigações, principalmente aquelas que estão em andamento e aquelas que poderão chegar. Chegando, precisam ter uma resposta o mais rápido possível.

Folha - Isso não era feito?
Moreira - Isso sempre foi feito. A Corregedoria sempre trabalhou com o imediatismo. Posso me considerar como filho daquela casa. Antes de ser coronel, eu trabalhei, eu vivenciei aquilo por 17 anos.

Folha - Os policiais violentos, como os que se envolveram nos casos dos motoboys, são oriundos de onde? Da zona leste, zona sul, do interior?
Moreira - Não temos um estatística, um estudo voltado para isso. A Polícia Militar é uma instituição aberta. A seleção é feita naturalmente.
Passam por um processo de seleção, de investigação social, muitas vezes não se detecta qualquer anomalia comportamental do indivíduo que está entrando.
Mas, de repente, quando ele coloca isso daqui [a farda], ele acha que pode tudo. Aí, tem questão de valores. De ética, moral, de berço.
Por que um policial militar as vezes aceita uma propina? Não foi a instituição que ensinou. Isso está incutido no "eu" dele. São os valores que adquiriu de berço. Eu entrei como soldado e, como tal, nunca aceitei nenhum café. Por quê? Por que são valores que eu aprendi no berço, com meu pai, minha mãe.

Folha - O sr. vem com status de "remédio" para a PM. O que fazer para não acontecerem casos como os dos motoboys?
Moreira - Meu principal remédio é o exemplo. Ser exemplo positivo. Ser mais transparentes, ser mais ágeis. Dar uma resposta com mais rapidez.
A todos que carecem de uma resposta, inclusive a própria família da vítima. Por que não? Aquilo que foi apurado precisa ser levado à família da vítima, ou à vítima.

Folha - A Polícia Civil diz que a PM dificultou as investigações em um dos casos dos motoboys, não forneceu fotos...
Moreira - Não é verdade. Não é verdade. De imediato foram presos os envolvidos e tudo está nas mãos da Justiça. Isso não procede. O que pode ter acontecido naquele momento foi uma falha de comunicação. Tenho quase certeza de que foi isso.
...[22]

              O discurso do coronel fornece vários indícios de contradição e de negação cínica, como estatísticas irreais e exageradas: “99,99% são honestos”, “a corregedoria sempre trabalhou com o imediatismo”, “nunca aceitei nenhum café”. Em especial, chama a atenção a pergunta: “Por que não?”, ao dizer que precisariam dar uma satisfação à família das vítimas dos motoboys. A pergunta indica a ideia incutida de que oferecer uma apuração dos fatos e punição dos agressores seria uma condescendência oferecida por ele e não uma obrigação básica da instituição.

              Em suma, a reconstituição e análise do livro Mudanças Sociais no Brasil demonstrou a importância de Florestan Fernandes no movimento de superação de análises psicologizantes do país ao propor um estudo sistemático de nossa conjuntura a partir da dinâmica de classes. Desse modo ele aprofundou uma visão de sociedade que já se encontrava em movimento e que vinha influenciando direta ou indiretamente críticos e artistas, iluminando a ‘modernidade arcaica’ do país, cuja manutenção interessa as classes privilegiadas na afirmação de seu domínio. Os exemplos escolhidos, como trechos de “Explicação”, Gota d’água e a entrevista com o coronel Moreira ofereceram apoio às categorias discutidas pelo sociólogo no livro. Hoje os quadros de análise do país estão diferentes daqueles dos anos 60/70, mas essa diferença se operou basicamente na intensidade menor de ocorrência da ‘modernidade arcaica’, não na sua superação, embora haja estudos que acreditem no seu esgotamento[23]. O que parece não ter se prolongado foi a crença do sociólogo na transcendência dos problemas através da revolução marxista, não existindo hoje aparentemente nenhuma outra forma de solução radical convincente que possa preencher esse vazio e dar alguma esperança de um sistema mais justo e igualitário. O que resta como triste consolo, nesse sentido, é o ensinamento de Florestan de que lentamente a revolução burguesa abriria espaços para a mobilização de ajustes na busca de uma operação menos cruel e discrepante do sistema de classes. Ajustes que possam pelo menos minimizar aqueles mecanismos de manipulação do povo apontados e que continuam até hoje a estimular quadros irracionais, como a dificuldade de acesso à educação de qualidade, o populismo e a violência mascarada ou assumida que acompanha este processo.


Bibliografia:


ANDRADE, Carlos Drummond de. “Explicação” in Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.

BUARQUE Chico. & PONTES Pontes. Gota d’agua, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.

DOMINGUES, José Maurício. “A dialética da modernização conservadora e a nova história do Brasil” in Ensaios de Sociologia: Teoria e Pesquisa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004. Também disponível em: http://www.scielo.br/pdf/dados/v45n3/a05v45n3.pdf (último acesso em 05/08/2010)

FERNANDES, Florestan. Mudanças Sociais no Brasil. São Paulo: Difusão Européia do livro, 1960.

FERNANDES, Florestan. “As mudanças Sociais no Brasil” in Mudanças Sociais no Brasil. São Paulo: Difel, 1974.

LEITE, Dante Moreira.  O Caráter Nacional Brasileiro: história de uma ideologia. 4ª edição definitiva com introdução de Alfredo Bosi. São Paulo: Pioneira, 1983.

INCISA, Ludovico. Verbete “Populismo” in BOBBIO, Norberto, MATTEUCI, Nicola. & PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. Tradução VARRIALE, Carmen C.... (et al.); coordenação da tradução FERREIRA, João, revisão geral FERREIRA, João e CASCAIS, Luis Guerreiro Pinto – 6ª ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1994.

MOTA, Carlos Guilherme. “Nacionalismo, Desenvolvimentismo, Radicalismo: Novas linhas da Produção Cultural” in Ideologia da Cultura Brasileira: 1933-1974: pontos de partida para uma revisão histórica. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1978.

SCHWARZ, Roberto. “Cultura e Política 1964-1968” in O pai de família e e outros estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1978, 2ª edição.

BADEN, Nancy. “We were born censured: The Dubious Legacy” in The muffled cries. The writer and literature in authoritarian Brazil, 1964-1985. Boston: University Press of America, 1999. 

PAGNAN, Rogério. “Prendemos muito mais do que matamos” in Folha.com, caderno ‘Cotidiano’, 29/05/2010 (sobre entrevista feita em 28/05/2010, de São Paulo para a “Folha de São Paulo) in  http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/742609-prendemos-muito-mais-do-que-matamos-diz-novo-corregedor-da-pm.shtml (acessado em 05/08/2010)


PINHEIRO, Paulo Sérgio. “Autoritarismo e transição” in Revista USP. São Paulo: USP, 1991.



[1] LEITE, D.M, 1983.
[2] “Contudo ela (a revolução no horizonte cultural) não se produz, em grande parte porque atitudes e motivações irracionais valorizam a preservação de critérios obsoletos de comportamento, de organização das instituições sociais e da intervenção da realidade” (FERNANDES, F. 1960, p 46)
[3] Capítulo 1 in FERNANDES, 1960.
[4] __________________________ p 67.
[5] in “Explicação” (DRUMMOND, C., 1992, p 33,34)
[6] Capítulo 1 in FERNANDES, F. 1974.
[7] Capítulo 2 in FERNANDES, F. 1960.
[8] Capítulo 3 ___________________
[9] Capítulo 4 ___________________
[10] Capítulo 5 ___________________
[11] Capítulo 6 ___________________ 
[12] Capítulo 7 in FERNANDES, F. 1960.
[13] Capítulo 10 in FERNANDES, F. 1960.
[14] MOTA, C. G., 1978, p 185.
[15] Gota d’agua (BUARQUE C. E PONTES P., 1976, p. 102, 103, 104)
[16]   In Dicionário de Política (citação de Wills em Ionescu-Gellner, 1994, p. 981)
[17]  , in Dicionário de Política (INCISA, Ludovico, 1994, p. 981)
[18] Cf. SCHWARZ, R. Cultura e Política 1964-1968 in O pai de família e e outros estudos. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1978, 2ª edição.
[19] BADEN, N., 1999. 
[20] PINHEIRO, P.S, 1991.
[21] PAGNAN, Rogério. 2010. “Prendemos muito mais do que matamos” (entrevista concedida de São Paulo para a Folha de São Paulo em 28/05/2010 e publicada em 29/05/2010)

[23] Cf. DOMINGUES, J. M. 2004. No ensaio de Domingues ele admite a manutenção da dificuldade de solidariedade social, porém parece muito otimista quando fala: “... no plano das escolhas pessoais, do que se poderia chamar de “política da vida”, das opções sexuais, religiosas, da situação da mulher e dos jovens, etc... Mesmo que em meio a profundas desigualdades sociais, o grau de liberdade nessas áreas aumentou de maneira exponencial e a pluralidade das formas de vida que caracteriza a modernidade brasileira é extremamente ampla.” Nesse aspecto muitos são os exemplos que podem atestar a continuidade de arcaismos em nossa sociedade, como mostram os acontecimentos com a estudante que foi escurraçada pelos colegas e em seguida expulsa pela instituição de ensino superior, por estar vestindo uma mini saia bem curta. Mesmo que a lei tenha obrigado a faculdade a voltar atrás, só o fato de termos chegado a este ponto já indica que uma comunidade que faz isso e que, ao mesmo tempo usa biquínis fio dental tranquilamente na praia, só pode estar ainda imersa no ‘modernismo conservador’, de alguma forma.

terça-feira, 8 de abril de 2014

A ditadura e os heróis


 
 coluna em branco no espaço de Lourenço Diaféria (16/09/1977)


Ensaio apresentado ao 'Programa de pós graduaçao em literatura brasileira'
Disciplina: O narrador na Literatura Brasileira. Formas narrativas e mudanças sociais (1960-2000)
Prof. Jaime Guinsburg       USP – FFLCH – DLCV            01/08/2010
Cecilia Silva Furquim Marinho


A DITADURA E OS HERÓIS

“Feliz o povo que não tem heróis” (Brecht)

“Nós não somos um povo feliz. Por isso precisamos de heróis” (Augusto Boal)[1]


A crônica de Lourenço Diaféria, “Herói. Morto. Nós.”, publicada em 1977 no jornal “Folha de São Paulo” alude à necessidade de heróis, a empatia com heróis, com toda a angústia que essa necessidade suscita, bem como a catarse que ela provoca; além de criar espaço de incertezas, de algo inacabado, mutilado a partir do tratamento da ambiguidade que a palavra comporta e das técnicas narrativas que usa.  É uma obra que pega o leitor desprevenido nesse espaço ao rés do chão, que é o espaço da crônica, no papel prosaico de jornal, cheio de sujeira e banalidades. É de lá que, de repente, uma convulsão surge e modifica o estado, a respiração, o batimento cardíaco do leitor. Com linguagem típica das crônicas, próxima, direta, popular, o texto de Diaféria, no entanto, surpreende pela seriedade que assume diante de seu objeto. Não recorre ao humor, nem à leveza: é dura e grave.

Diaféria, que fora sempre e somente jornalista, foi comparado à Rubem Braga, pelo fato de não ter se aventurado em gêneros literários mais nobres[2]. Ficaram ambos na despretenciosa e por isso grande humanidade da crônica, segundo atribuições de Antonio Cândido[3]. Iniciou sua carreira de preparador de matérias em 56, e de cronista em 64. Em 77 continuava no mesmo jornal ‘A Folha de São Paulo’ e tinha prestígio  e aceitação entre os leitores e os colegas de redação. Era, segundo um deles, uma pessoa leve:


                            Eu estava lá, posso contar. Trabalhei na Folha por dois anos e meio na segunda metade da década de 1970. Diaféria era o chamado boa-praça, sempre sorridente, de grande talento, querido por todos. Nós, metidos a revolucionários, que fazíamos parte da troupe do editor Tarso de Castro, achávamos até que ele era leve demais, pois estávamos em plena ditadura civil-militar. Nem sabíamos a porcaria em que ia se transformar o país nos anos seguintes. Deveríamos era agradecer aos céus por termos perto, todos os dias, o cronista da cidade, com uma popularidade que testemunhei pessoalmente, pois nesse momento o mundo explodiu.[4]    


O mundo explodiu para o cronista e também um pouco para o jornal que o acolhia, a partir da reação gerada pela crônica em questão. Diaféria incomodou fundo os governantes militares, naquele 1º de setembro de 1977, com suas considerações a respeito do herói. Reconstituindo a crônica, ela a princípio se presta a homenagear um ato de bravura de um sargento que sacrificou sua vida para salvar uma criança, em passeio num zoológico de Brasília, acompanhado da mulher e dos filhos. O nome do sargento de 33 anos: Sílvio Delmar Holenbach. O garoto que havia caído no poço das ariranhas sobreviveu, mas seu salvador morreria dias depois em decorrência de uma infecção generalizada causada pelas mordidas dos animais. Esse ato, que foi explorado pelos jornais, impressionou deveras o cronista que já começa intitulando seu texto de forma inusitada: “Herói. Morto. Nós.” As três pausas que se dão  pelo uso dos três pontos finais já antecipam uma linha expressiva textual que vai ser explorada até o fim, e que vai se apoiar intensamente na alternância entre pausa e linguagem, o silêncio e o ruído decorrente delas. A análise  feita por Cilza Bignotto e Noemi Jaffe capta outros importantes significados do título:


“... o uso dos três pontos finais e a disposição das palavras “Herói”, “Morto” e “Nós” podem ser analisados como    prenúncio da idéia principal do texto, a de que o herói está separado de nós pela morte. Herói é substantivo; morto, adjetivo; nós, pronome. Se pensarmos que os pronomes são usados em função dos nomes, podemos dizer que “nós” está em função de “herói”, mas apenas quando o herói tem a qualidade de estar “morto”. A morte nos separa irremediavelmente do herói, a quem só conhecemos depois de morto. Os pontos não são de interrogação, ou de exclamação, ou vírgulas; são pontos finais, o que enfatiza a noção de morte, fim.”[5]


A noção de herói, lançada dessa forma, especifica que trata-se daquele que dá a vida pelo outro, o que o diferencia de outros tipos de heróis. Aqueles que se notabilizam, que despertam admiração, que se arriscam, sem, no entanto, perder a vida, podem também ser qualificados pelo mesmo termo. Mas esse que será homenageado, esse é do tipo que entregou a vida, sem recebê-la de volta.  Essa particularidade já produz uma série de implicações. Não se trata de meio termo: é vida e morte, e morte que produz vida. São instâncias puras que evidenciam, por comparação, a impureza do estado da grande maioria misturada, os indivíduos normais.  Que fascinam esses indivíduos normais pela grandeza que eles não tem; e que geram alívio nesses mesmos indivíduos, por não terem essa grandeza que cobra preço tão alto.   Eles se purificam por empréstimo, um pouquinho, pela funda empatia que estabelecem com o herói, mas podendo em seguida, com uma pitada de culpa e alegria, voltar a suas vidas impuras que valorizam e que não estão oferecendo a ninguém, para, inclusive, poderem se regozijar na celebração da vida que o herói produziu, no caso: a vida do garoto.  Algo próximo da catarse. Não é à toa que os mitos eram matéria por excelência da experiência artística trágica e épica nas Civilizações antigas e que seu heroísmo ajudava a definir os gêneros.  Considerações a respeito do herói mítico, feitas por Anatol Rosenfeld, são bastante pertinentes:   

“A imaginação mítica é, ademais, profundamente irracional; não há mito racional. O substrato do mito não são, como vimos, pensamentos e sim emoções. É a unidade do sentimento que substitui a coerência lógica. O mito é um modo de organizar as emoções mais veementes, é projeção de temores, de angústias, de wishful thinking, de esperanças fundamente arraigadas. O herói mítico é a personificação de desejos coletivos. Em tempos de crise, este desejo impregna-se de força virulenta e projeta a imagem plástica e individual das esperanças em forma de personificação. Na criação do herói mítico prevalece a crença primitiva de que todos os poderes humanos e naturais podem condensar-se numa só personalidade excepcional. Quando em amplos grupos se manifesta a esperança coletiva com intensidade máxima, eles facilmente podem ser convencidos de que só se necessita da vinda do homem providencial para satisfazer todas as aspirações.”[6]


                  O Brasil do século XX não é exatamente lugar nem tempo para heróis míticos. O sargento seria um herói prosaico, diminuído, um pálido resquício desse herói mítico. Porém, por incrível que pareça, tem algo dele. E por isso o narrador inicia seu primeiro parágrafo já se defendendo da possível desqualificação que o sargento poderia receber:  


Não me venham com besteiras de dizer que herói não existe. Passei metade do dia imaginando uma palavra menos desgastada para definir o gesto desse sargento Sílvio, que pulou no poço das ariranhas, para salvar o garoto de catorze anos, que estava sendo dilacerado pelos bichos.

O garoto está salvo. O sargento morreu e está sendo enterrado em sua terra.

Que nome devo dar a esse homem?

Escrevo com todas as letras: o sargento Silvio é um herói. Se não morreu na guerra, se não disparou nenhum tiro, se não foi enforcado, tanto melhor.

Podem me explicar que esse tipo de heroísmo é resultado de uma total inconsciência do perigo. Pois quero que se lixem as explicações. Para mim, o herói -como o santo- é aquele que vive sua vida até as últimas consequências.

O herói redime a humanidade à deriva.

Esse sargento Silvio podia estar vivo da silva com seus quatro filhos e sua mulher. Acabaria capitão, major.

Está morto.

Um belíssimo sargento morto.
[7]


O herói mítico, sendo produto da imaginação ficcional ou da projeção irracional dos desejos coletivos, não seria tido como real. É preciso então negar a inexistência dele, “com todas as letras”. Por outro lado, o narrador sugere o desgaste da palavra ‘herói’, indicando que sua suposta ‘inexistência’ não impede que a palavra tenha ampla circulação, aderência a diversos tipos de usos, possuindo uma existência simbólica inegável, cuja apropriação, apesar de comum, o autor não pode evitar. Em seguida, ele faz menção ao uso da palavra que está associada ao heroísmo militar: morrer na guerra, disparar tiro; e também ao heroísmo dos mártires políticos, como Tiradentes, que morreu enforcado. Nenhum desses é o caso do Sargento Sílvio, e o autor considera isso uma qualidade: “tanto melhor”. Esse não enquadramento do Sargento na modalidade de herói militar e o descaso pela modalidade, que será seriamente retomado na continuação da crônica, tem sustentação em Hegel. No livro O mito e o herói no moderno teatro brasileiro, Anatol Rosenfeld cita afirmações do filósofo de que o herói grego teria responsabilidade individual (‘etos individual’) pela execução de seus atos heróicos[8], diferentemente da tentativa de reconstrução do herói no tempo prosaico, que não obteria o mesmo  efeito pelo fato do sujeito ter sua substância alienada na aderência à sociedade burguesa. Nela, seriam o estado ou a coletividade os responsáveis finais pelos atos, sendo os homens que os veicularam substituíveis. Seguindo esse raciocínio, o filósofo não exclui nem os monarcas nem os militares da incapacidade de reconstrução do herói moderno:  


“Os monarcas já não são ... o ápice em si concreto do todo, mas um centro mais ou menos abstrato dentro das instituições já por si desenvolvidas e fixadas pela lei e constituição... Da mesma forma um general ou mesmo um marechal certamente ainda têm grande poder: fins e interesses essenciais entregam às suas mãos e sua visão clara, coragem e vontade decidem sobre as coisas mais importantes; ainda assim, aquilo que nesta decisão se deve atribuir ao seu caráter subjetivo, como âmago pessoal dele, é de amplitude pequena. Pois de um lado os fins já lhe são dados e encontram a sua origem – ao invés de na sua individualidade – em circunstâncias exteriores ao âmbito do seu poder; de outro lado, tampouco produz por si mesmo os meios para executar estes fins; ao contrário, os meios lhe são fornecidos, visto não serem do seu domínio e não se subordinarem à sua personalidade....”[9]


              Seria então o fato do sargento não se enquadrar nestas categorias, uma afirmação da sua individualidade na escolha pelo salvamento? Ele, apesar de ser militar, não estava em serviço, não agiu em nome da corporação, das missões institucionais, não usou as armas que esta corporação lhe forneceu. Estava ali o Sílvio apenas, em uma individualidade que seria um pouco mais próxima daquela do herói grego de Hegel. O narrador da crônica não compartilha, então, da idéia Hegeliana de impossibilidade de reconstrução desse herói nos tempos modernos, apesar das muitas características diferentes que os separam.  

             

Em seguida, o narrador se defende novamente de uma outra possível acusação ao heroísmo do sargento: seu ato seria fruto da inconsciência do perigo. Nesse momento o narrador não apresenta mais nenhum dos argumento racionais de que se valeu anteriormente. Assume o caráter irracional da busca do herói, compara-o a outra busca irracional, a religiosa. Ao fazer a comparação, abraça o significado mítico do herói, sem rodeios, ao dizer que ele “redime a humanidade à deriva”. Acena para a outra opção do Sargento Sílvio: continuar vivo pai de família, acabar capitão, major, totalmente inserido na sociedade civil, militar, política, livre de perigos. Volta ao risco que realmente assumiu e que o separa de tudo isso: “Está morto”. “Um belíssimo sargento morto.” Nesse primeiro trecho da crônica selecionado, chama a atenção a repetição das palavras ‘herói’ (4 vezes) e ‘morto’ (2 vezes), bem como as derivações ‘heroísmo’ e ‘morreu’. Essas repetições remetem às duas primeiras palavras do título, num eco amplificado. As pausas produzidas pelos pontos finais do título se mantém e se intensificam no decorrer do texto acompanhadas pelas pausas de mudanças de parágrafos, que ocorrem antes do momento natural, com intensidade ainda maior no fim do trecho no parágrafo mínimo: “Está morto.” E o espaço dado nestas mudanças cria vazios visuais que acompanham os vazios sonoros. Tudo contribuindo para  criar a atmosfera de impacto diante da experiência limite que se expressa mais no silêncio que na palavra. Esse recurso porém será mais explorado ainda no trecho que segue: 


“E todavia.

Todavia eu digo, com todas as letras: prefiro esse sargento herói ao duque de Caxias.

O duque de Caxias é um homem a cavalo reduzido a uma estátua. Aquela espada que o duque ergue ao ar aqui na Praça Princesa Isabel -onde se reúnem os ciganos e as pombas do entardecer- oxidou-se no coração do povo. O povo está cansado de espadas e de cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal. Ao povo desgosta o herói de bronze, irretocável e irretorquível, como as enfadonhas lições repetidas por cansadas professoras que não acreditam no que mandam decorar.”


O corte brusco após a conjunção, para depois retomá-la no parágrafo seguinte e concluir a idéia cria um suspense que se justifica plenamente. A partir dessa conjunção a crônica saltará para um outro patamar, levando o leitor e até o destino do cronista a outro nível de problema. A idéia que aparece por contraste à homenagem feita anteriormente contextualiza essa homenagem através do ataque, da inferiorização da categoria de herói militar, aquela mesma que ele havia antecipado não pertencer o Sargento Sílvio. E cita um nome que representaria essa categoria: Duque de Caxias, um herói militar que, por ter sido um dos mais importantes militares da história do Brasil, fora condecorado pelo governo federal,  em 1962, o ‘patrono do Exército brasileiro’. Esse patrono foi um militar conservador, que lutou e silenciou movimentos populares durante sua carreira, tendo adquirido o posto de Duque às custas da defesa das classes dominantes. Ninguém melhor do que ele para representar os militares daquele momento histórico. O ataque do narrador começa mais suave, pela afirmação “com todas as letras” de que a categoria de Sílvio seria preferível, para depois assumir uma violência crítica ao reduzir Duque de Caxias a uma estátua, no sentido negativo. A estátua, que inicialmente é erigida para engrandecer uma figura humana, para prolongar a sua imagem através dos tempos, agora se mostra num outro ângulo: seu material a torna fria, dura, despida de humanidade, indiferente na ausência de interação com aqueles que a rodeiam.  E esses que a rodeiam são identificados como sendo os ciganos e as pombas, seres despidos de prestígio, invizíveis, marginalizados na paisagem social. Em seguida o narrador faz menção ao povo como coletividade em que se insere também. E prossegue na violência ao instrumento de luta do Duque, a espada, depois o cavalo, depois o pedestal. A espada oxidou-se, enferrujou-se, perdeu o brilho, corroeu. A estátua gera cansaço, desprezo e desrespeito total (o povo urina nela). O herói de bronze, no seu caráter de indiferença e distância do povo (irretocável e irretorquível) não suscita afeto, assim como as lições das “cansadas professoras que não acreditam no que mandam decorar”.


No trecho o narrador aproxima o contexto de sua homenagem ao momento de ‘crise’ já apresentado por Rosenfeld, em que “o desejo impregna-se de força virulenta”. É a crise da democracia, a crise da perspectiva de igualdade e justiça, já que a ditadura militar, especialmente depois do AI5, além de privar a população de liberdade, apresentou os maiores índices de desigualdade na distribuição de renda até então registrados. E apresentou uma propaganda, de que fala o sociólogo Florestan Fernandes, criadora da imagem de país em grande desenvolvimento, crescimento econômico (‘o milagre econômico’), sem deixar claro a quem esses atributos estariam beneficiando. E as professoras mencionadas  seriam instrumentos dessa manipulação ao terem que ministrar aulas que se encaixassem dentro do padrão propagandístico enganoso.


O povo quer o herói sargento que seja como ele: povo. Um sargento que dê as mãos aos filhos e à mulher, e passeie incógnito e desfardado, sem divisas, entre seus irmãos.

No instante em que o sargento -apesar do grito de perigo e de alerta de sua mulher- salta no fosso das simpáticas e ferozes ariranhas, para salvar da morte o garoto que não era seu, ele está ensinando a este país, de heróis estáticos e fundidos em metal, que todos somos responsáveis pelos espinhos que machucam o couro de todos.

Esse sargento não é do grupo do cambalacho.

Esse sargento não pensou se, para ser honesto para consigo mesmo, um cidadão deve ser civil ou militar. Duvido, e faço pouco, que esse pobre sargento morto fez revoluções de bar, na base do uísque e da farolagem, e duvido que em algum instante ele imaginou que apareceria na primeira página dos jornais.

É apenas um homem que -como disse quando pressentiu as suas últimas quarenta e oito horas, quando pressentiu o roteiro de sua última viagem- não podia permanecer insensível diante de uma criança sem defesa.

O povo prefere esses heróis: de carne e sangue.



No trecho acima, que prossegue a crônica, o narrador se afasta de seu objeto ‘Duque de Caxias/estátua’ para retornar ao Sargento Sílvio novamente. Esse retorno vem carregado de significados, na medida em que utiliza várias comparações para identificar o Sargento ao povo, e contrastá-lo com a instituição militar, que castiga o povo. A individualidade do herói grego é aqui retomada e retirada. Se mantém em relação à corporação militar, e se perde na identificação com o povo. Sílvio seria  alguém que não se pauta pelo esnobismo militar, pelo culto à vaidade, à ostentação, ao uso irregular do dinheiro público, à irresponsabilidade, insensibilidade dos governantes militares. Para fechar o contraste, Sílvio é de carne e sangue, retomando a oposição com o frio metal dos outros militares. A perda da dita individualidade ‘grega’ na aproximação do Sargento com a coletividade povo também não é total, já que ele seria um herói morto, enquanto o resto do povo permanece vivo e acuado. Ele se isola novamente, mas em sintonia com o povo. Esse movimento fica claro no trecho final:


Mas, como sempre, o herói é reconhecido depois, muito depois. Tarde demais.

É isso, sargento: nestes tempos cruéis e embotados, a gente não teve o instante de te reconhecer entre o povo. A gente não distinguiu teu rosto na multidão. Éramos irmãos, e só descobrimos isso agora, quando o sangue verte, e quanto te enterramos. O herói e o santo é o que derrama seu sangue. Esse é o preço que deles cobramos.

Podíamos ter estendido nossas mãos e te arrancado do fosso das ariranhas -como você tirou o menino de catorze anos- mas queríamos que alguém fizesse o gesto de solidariedade em nosso lugar.

Sempre é assim: o herói e o santo é o que estende as mãos.

E este é o nosso grande remorso: o de fazer as coisas urgentes e inadiáveis -tarde demais.


O Sargento seria, segundo o trecho, parte do povo, porém foi além dele, fazendo o que o povo não foi capaz. Não foi capaz de reconhecer essa irmandade antes da sua morte, não foi capaz de  reproduzir o ato de bravura, de salvamento. E a constatação disso fecha o texto com a culpa dos que não foram heróis. Traz um interessante deslocamento ao repentinamente dirigir-se ao próprio sargento Sílvio (“É isso, sargento...”), para aparentemente voltar ao direcionamento anterior, em que Sílvio é terceira pessoa, antes de concluir o trecho. Termina focalizando a última palavra colocada no título: ‘nós’. Aqui o ato de bravura se reveste de ambiguidade: não seria apenas o salvamento do sargento pelo povo, ao retirá-lo do poço, podendo ser também o salvamento do país, impedindo o golpe com atitudes anteriores, ou uma grande passeata como reação a ele. A passividade do povo é aludida de forma dolorosa, e nesse conceito de povo, o narrador parece incluir setores da classe média, já que se coloca junto. A passividade da classe média nesse caso é a que mais causa remorso, sendo uma classe que teve acesso à educação e que pôde desenvolver condições de defesa contra a propaganda geradora de conformação. No entanto, após 1968, a classe média não desenvolveu formas diretas de resistência pelo alto preço que pagaria diante do endurecimento militar. Nesse sentido, ela permaneceu passiva, com algumas exceções que aderiram à luta armada e que não obtiveram sucesso. Houve, é certo, formas de resistência indireta, como, por exemplo, letras de música e  algumas peças de Chico Buarque, que se valiam da ambiguidade, e com isso burlavam a censura.


O narrador da crônica identifica-se com o escritor Lourenço Diaféria, mas não precisa restringir essa identificação e ele. Na realidade, ele aspira uma identificação com cada leitor, e a utilização insistente do ‘Nós’, da primeira pessoa no plural, das palavras ‘povo’, ‘todos’, ‘irmãos’ indicam essa pretensão. Porém a sua relação direta com o próprio autor adquire contornos bem significativos neste caso. O cronista estaria enlevado pelo ato de bravura do sargento e culpado pela sua própria passividade diante da situação política ao colocar suas angústias no papel e publicá-las. Em parte conscientemente, mas não sabemos se totalmente, Diaféria fez ele também um ato de bravura ao dirigir críticas  severas aos militares, que sabia serem ‘irretocáveis e irretorquíveis’. E o mundo explodiu para ele. Se o fez pela inconsciência do perigo, ‘que se lixem’. Embora não tenha tido que entregar a vida, teve que entregar parte da liberdade, pois ficou preso por cinco dias na Polícia Federal em São Paulo e teve que responder a processo por ofensa às forças armadas. O primeiro juiz que avaliou a denúncia, em janeiro de 78, absolveu o cronista; porém a procuradoria Militar recorreu da sentença e ele foi a julgamento que resultou na sua absolvição pela 2ª auditoria militar. Outro procurador recorreu e ele então foi condenado a oito  meses de prisão. Desta vez seu advogado é quem recorreu e, somente em fevereiro de 1980, o S.T.F. restabeleceria a primeira absolvição[10]. Nestes dois anos e meio, ele perderia o emprego na Folha de São Paulo, por  pressão política, e só o teria de volta anos depois:

“Lembro sua cara transtornada pela injustiça que sofreu, pois foi preso e processado. Em retaliação, Tarso de Castro publicou o espaço do cronista totalmente em branco, o que foi considerado uma ofensa ainda mais grave pelos ditadores. Na redação, choveu telefonemas dos leitores. Todos diziam a mesma coisa: “Se Lourenço Diaféria sair, suspendo minha assinatura ou então, deixo de comprar o jornal, pois eu só tenho a Folha na minha casa para ler o cronista”. Fiquei impressionado pelo carisma, a penetração, o prestígio, a grandeza do nosso herói dos textos diários. Mudei complemente meu conceito. Eu sempre lia sua crônica, mas pessoalmente tinha preconceitos, que sumiram nesses dias. Diaféria era o cara e nós, uns apagados escribas insubordinados, mas submissos.”[11]


Nesse relato, a palavra herói é dirigida ao cronista. Afinal, ele sacrificou seu emprego, sua segurança, em nome de uma convicção, de uma não passividade, deixando desta vez os outros a admirá-lo e a sentirem remorso, exatamente como havia feito com o Sargento Sílvio. Após os incidentes que sofreu, ele passa a ser o herói, embora numa categoria menos radical, a daqueles que não entregam a vida, mas entregam o conforto conquistado na vida.


              A crônica “Herói. Morto. Nós.” analisada, utiliza-se de recursos de quebras de discurso que assemelham-se às quebras de versos na poesia, explorando ‘versos’ longos e curtos, variando assim o ritmo. As imagens oferecidas também são dotadas de poder poético e de alusões ambiguas e sugestivas. Os silêncios e espaços em branco criados pela pausa, pelos pontos finais, pelos pulos de linha, se estabelecem já a partir do título e se prolongam até o fim, em vários pontos de maneira brusca. A grande frequência de travessões, isolando partes do texto, a repetição de certos termos chave, tudo isso cria a sensação de mutilação, de abertura para o espaço irracional das emoções, de perda das palavras pela indignação diante do desvendamento de vários problemas. O impulso do cronista aí se parece com o impulso do romancista, que, segundo Adorno:


“O impulso característico do romance, a tentativa de decifrar o enigma da vida exterior, converte-se no esforço de captar a essência, que por sua vez aparece como algo assustador e duplamente estranho no contexto do estranhamento cotidiano imposto pelas convenções sociais. O momento antirealista do romance moderno, sua dimensão metafísica, amadurece em si mesmo pelo seu objeto real, uma sociedade em que os homens estão apartados uns dos outros e de si mesmos. Na transcendência estética reflete-se o desencantamento do mundo”[12]


O desencantamento do mundo se produziria diante dos problemas suscitados na crônica:  o autoritarismo da relação povo/governantes na ditadura e a inexistência de compromisso real desses governantes pela proteção e bem estar do povo; a necessidade de heróis ou de santos para suprir carências profundas; o contraste herói anônimo de sangue/ herói oficial de bronze; o desvendamento da passividade/submissão do povo diante de suas carências.   São todos problemas oferecidos ao leitor com grande impacto e a tensão própria exigida pela ‘essência assustadora’ captada dos temas propostos.






Bibliografia:





ADORNO, Theodor W. “Posição do narrador no romande contemporâneo” in Notas de Literatura. São Paulo: Duas Cidades/ Editora 34, 2003.


BIGNOTTO, Cilza; JAFFE, Noemi. “Crônica: Jornalismo e Política 1850-100 (1964) unidade 2” in Crônica na sala de aula: material de apoio ao professor. Apresentação Marisa Lajolo. 2 ed., São Paulo: Itaú Cultural, 2004.


CÂNDIDO, A. “A vida ao rés do chão” in A Crônica. O gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas, S.P: Editora da Unicamp; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992. 

DIAFÉRIA, Lourenço. “Herói. Morto. Nós.” - Folha de São Paulo, 10 de setembro de 1977.  http://www1.folha.uol.com.br/folha/80anos/tempos_cruciais-02a.shtml (último acesso em 05/08/2010)


DUCLÓS, Nei. “Lourenço Diaféria: a crônica em branco.”, 12/2009 in http://www.consciencia.org/neiduclos/lourenco-diaferia-a-cronica-em-branco (último acesso em 05/08/2010)


ROSENFELD, A. “Heróis e Coringas” in O mito e o herói no moderno Teatro Brasileiro. São Paulo: Perspectiva, 1982.


Sem autor especificado - “Supremo revoga a condenação de Diaféria (3 a 1)” - Folha de São Paulo, 13/02/1980; in http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil2_13fev1980.htm (último acesso em 05/08/2010)








[1] Ambas as citações feitas por ROSENFELD, A, 1982.
[2] Cf. DUCLÓS, Nei. 12/2009.
[3] Cândido, A. 1992. 
[4] DUCLÓS, Nei. “Lourenço Diaféria: a crônica em branco.”, 12/2009 .
[5] BIGNOTTO, Cilza; JAFFE, Noemi. 2004. p. 40.
[6] ROSENFELD, A. 1982. p. 35/36.
[7] DIAFÉRIA, L. Folha de São Paulo, 10 de setembro de 1977.
[8] ROSENFELD, A. 1982. (citação de HEGEL, G.W.F.: Aesthetik, Berlim, Editora Aufbau, 1955. p 208/209)
 “Os heróis gregos, bem ao contrário, são indivíduos que, a partir da autonomia de seu caráter e arbítrio, se encarregam e realizam o todo de uma ação e no caso dos quais, por isso mesmo a ação, mercê da qual executam o justo e moral, se afigura como etos individual. Esta unidade imediata do substancial e da individualidade, da inclinação, dos impulsos, do querer, reside na virtude grega, de modo que a individualidade é a sua própria lei; não é sujeita a uma lei, sentença ou a um tribunal que existissem por si mesmos” (Hegel, p. 208/209)
[9] ROSENFELD, A. 1982. (citação de HEGEL, G.W.F.: Aesthetik, Berlim, Editora Aufbau, 1955. p 215, 216)
[10] Cf. Supremo revoga a condenação de Diaféria (3 a 1) in Folha de São Paulo, 13/02/1980. In http://almanaque.folha.uol.com.br/brasil2_13fev1980.htm (último acesso em 05/08/2010)
[11] DUCLÓS, Nei. “Lourenço Diaféria: a crônica em branco.”, 12/2009
[12] ADORNO, T. 2003.