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domingo, 5 de agosto de 2007

Colar de Contos

Dez Contos
e um
condutor





























MANCHADO

As manchas do mundo
o Machado acha e mostra



Sobre a composição:

Este trabalho apresenta a minha leitura de dez contos de Machado de Assis, em forma de poesia.

Acredito que o entendimento pleno dos poemas tende a depender do conhecimento daquilo que os inspirou, no caso os contos: ‘Um homem célebre’, ‘O Espelho’, ‘O caso da vara’, O medalhão’, ‘A causa secreta’, ‘O enfermeiro’, ‘A igreja do Diabo’, ‘A cartomante’, ‘Noite de Almirante’ e ‘Missa do Galo’.

A forte contenção utilizada, apropriando-se aqui e ali de palavras do próprio Machado e a referência constante, porém muitas vezes indireta, ao seu universo ficcional forçam os leitores a reportar-se ao seu repertório do conto. É uma proposta de diálogo com os leitores desse autor, que tanto instiga, incomoda e seduz até hoje.

É possível que, no entanto, existam momentos de autonomia, e que mesmo alguém despido das referências mencionadas possa atribuir sentido a parte desse trabalho, ampliando a interpretação do mesmo. É uma possibilidade bem vinda, desejável inclusive, mas que pode encontrar barreiras.

Em meio a essas incertezas de resultado, fato é que o processo foi uma experiência de aprendiz, em que procurei aplicar os conhecimentos despertados, tanto nas aulas de meu professor de poesia, Marcelo Tápia; quanto no curso de Alcides Villaça sobre contos de Machado de Assis.

Espero ter feito algum aproveitamento.

Cecilia Furquim
Novembro de 2006




Índice:


Polca Pouca
Espelho
Caso escravo
Medalhão
Secreta mente
Rosarruda
Cartomorte
Jura ao mar
Pelo sim, pelo Cão
Romper da Missa
Assim Assis?

Polca Pouca

I-

Quer sonata,
sai polca:
sonora polca,
sonata nula

Polca pouca
nas teclas roucas
divulgam rosto vulgar

Contrariado
com pôr
graciosa musa
em pacto dançante

Descompassado
com
efusão parda

Comprometido
com
a nota alada

Compungido
com
não manar nada

Íntima vaia
Desvairada


II-

Assaz-escassez
no quarto de fel,
em que o frêmito efeito
a alma não sacia:
vexa, nauseia, entedia.

Patético acaso
que nem o casar
consola

No turno consórcio,
tísica prenda,
pálida amplia
a perplexidade.

Expira aterrada,
arte-assassinada.

Um réquiem recria
vão esforço
em fundo fosso
que se faz
com paixão.


III-

Ao som do piano
da polca maior,
sacros e profanos
jogam peteca.

O peso do apelo
é o vencedor,
é onde pára a dor:
paradoxo.

Conserva, libera
derradeira pilhéria,
interna maldade:
Celebri-(versus)
hombri-dade.

Espelho

Alma entre pólos
Entregue ao pêndulo
Dentro fora
Fora dentro

De século a século
Nuclear silêncio
Nunca sempre
Sempre nunca

Reflexão difusa
que o vidro deflagra
Transparência
Supurada

Superada
pelo Posto
na face do espelho
Aceno do oposto

Fora sempre
Sempre fora
Do fardo à farda
Dual anulado

Nunca dentro
Dentro nunca
O pare-ser
Entre-laçado

Caso escravo

Caprichado capricho
o de ajudar
para dominar
a quem se doma
com a viúva
vulva

Rijo açoite
o de comprar
para abusar
de quem se cala
com a vara
tara

Forçoso conluio
o de entregar
a ‘justa’ arma
e legitimá-la
com a honra
rala

Medalhão

A modelar medalha,
principesca medida,
principia ao meio dia
matura à meia noite

A moderada medalha
alicia seus súditos
superficia os pontos
suplanta os prantos

A manhosa medalha
ofuscante sedução
prossegue impondo
controversa condição

A renúncia do próprio,
a mental inópia,
a melíflua retórica,
a glória, a glória, a glória

Secreta mente

Sem rebuço, relanço
a história singular
do homem
que amava lágrimas.

Trocadas as teclas,
na clave do sensível,
a in-sólida-riedade.

Em homem chumbo
Robusto é o desdém
Maciço o sorver.

Ele, estanhamente,
disseca a anatomia
de seres irracionais

Tendo atado
um rato pelo rabo,
arranca rasgos, guinchos,
do suplício da lâmina.

Dissonante sabor,
delícia íntima,
vasto prazer
estético?

Calígulamente
volta-se ávido
aos racionais seres

Estaca diante, distante,
do choro guinchante
de mudo amor,
que morre.
Profunda dor
de alheio
afeto.

Secreta mente
surpreendido
ante óbito-leito,
o homem chumbo
fundo se deleita.

Rosarruda




Doce cilada foi aquela
de velha rabugice esganada.

E eu agora desenganado,
conto, mas não assino.



























.

assassinocente
rosarruda
lanço o mais puro
ensinamento:

bem aventurados
e consolados
os que
possuem.

Cartomorte

1º ATO:

Zombei
da aparição
de mãos e cartas

2º ATO:

Colhi sem pudor
o fruto proibido

3º ATO:

Fui ameaçado,
caguei de medo.
Hamlet de quinta,
apelei para o invisível
guia.

4º ATO:

Italianinha surrada
de dentes sãos
a morder passas
me ofereceu a paz
num ás de espadas.

5º ATO:

O príncipe
na Dinamarca,
atordoado, sem consolo,
ante lodo torpe,
sofria, se embatia,
por ver o embaçado
com lucidez atroz.


Eu aqui
embalado
em rósea nuvem
não vi
que a maneira
mais barata
e menos chata
de cuidar da vaidade
e livrar-se
de uma esposa
tonta e incômoda,
é matando-a afinal,
junto ao seu rival.

O pano caiu.

Jura ao mar

A jura de namorado
dura tempo vago
toda uma vida
ou breve acolhida?

A jura é palavra
que lavra ou que engana,
lacrada ou volátil,
Penélope ou Molly?

Desafio ao destino,
laçada no pulso da sina,
ou lança de convulso instante
no centro intenso do prisma?

A jura de amar
vaga levada pela onda
em mar de proa
ou de popa
mar de prosa
ou de rosas.

Aquela jura lua
cresceu cheia
na água
minguou nova
na terra

Veio da costa
e deu de costas
pro insólido mar,
de ingênuo marujo.

Jura?

Pelo sim pelo Cão




















Romper da Missa

Em arca lacrada
de lar patriarca,
há uma brecha
onde passa
a úmida brisa.

No submisso
subterrâneo
se inicia sensual missa,
eclode eros, que nada
nas passagens ínfimas,
atiçando o descerrar
de comportadas
comportas.

Matura anima derrama
malícia contida
sobre púbere imperícia.

Ziguezagueando
animus botão,
ela roça leve e desperta
o pólen.

Essa volúpia subcutânea,
esse ensaio de súplica,
trava

ao vislumbre de tanatos,
que ali flerta.

Fecha-se a arca,
tapa-se a brecha.

Assim Assis?

Num caldeirão
de misérias
o bruxo criou
lítera poção.

Prová-la
é rito
de passagem

Aspecto
límpido e fino
impressiona.
Teor
tosco e turvo
incomoda.

Substância que
esbanja
multileitura,
assola
visão alva,
enigma
os presentes,
divide a sala.

Está ali

séria sátira
falso fato
trivial trágico

que

apaticompassível
en (des) cobre
para (mobi) liza e
des culpa

o

r expirar
in humano