Poema de Cecilia
Furquim
(ilustrações da
autora)
A baratinha do mar
tinha prima na cidade
que teve a boa vontade
de economizar
dinheiro,
e também a felicidade
de colocar no cabelo
uma fita bem bonita.
Veio então aquele
monte
de bicho pretendente,
mas escolheu Don Ratão
que morreu no
caldeirão.
Essa dona baratinha
com uma fita no cabelo
e dinheiro na caixinha
virou viúva bem cedo,
antes mesmo de casar.
Já a baratinha do mar,
essa daí não tinha
nem fita no cabelo
nem um pouco de
dinheiro.
Ela morava na pedra
de lá da ponta da
praia,
bem do lado do siri.
E quando seres humanos
passeavam por ali;
elas corriam pro lado,
escutando o
comentário:
“Olha, é barata do mar!
Não é preciso correr,
elas são muito mais limpas
e também são menorzinhas,
mas a feiúra é igual”
A barata não achava
vantagem, afinal,
pequenez e limpeza,
sendo pobre e sendo
feia.
“Quem comigo irá casar?
Se eu ao menos costurasse
um laço pra disfarçar.”
Ela então teve uma
idéia:
pediu pras algas do
mar
ofertarem um pedaço
para então fazer um
laço.
Mas, separado da
pedra,
o laço cheirava mal
e ninguém chegava
perto.
Foi aí que ela
encontrou
uma moeda real.
Espalhou-se pelo mar
a notícia da riqueza.
Os peixes se aproximaram
e disseram com
franqueza:
“A moeda é dourada,
só que não vale nada.
Tem igual uma centena
nos navios naufragados,
e não compram nem minhoca.”
A baratinha do mar
ficou bem desconsolada.
Suspirou pro Deus das
águas,
olhando as ondas na
praia
batendo leve na pedra:
“Quando é que um ser marinho
Virá me fazer carinho?”
Fez, enquanto
esperava,
um tricô de algas
velhas
do tamanho da praia.
Apesar de ser tão belo
acabou meio fedido.
Mas aí veio um mendigo
que, por nunca
implicar
com essas questões de
olfato,
julgou o tricô de
algas
uma obra prima de fato.
Esse mendigo crustáceo
tinha certa excelência.
Surgiu então a crença
de ser nobre disfarçado,
mas era mendigo mesmo,
vivia de pedir esmola.
E não é que ele de cara
achou a nossa barata
a mais bela do mar,
e com ela quis casar?
Ou estava acostumado
a só ver coisa feiosa
ou sofria de miopia.
E como nunca na vida
teve posses, ouro ou prata;
não sentiu falta de nada.
A baratinha do mar
hoje escreveu uma
carta
pra prima baratinha
que tem fita no cabelo
e dinheiro na
caixinha:
“Pros humanos nossa vida
por certo seria sofrida.
Mas como sou barata,
fica mais fácil - ela diz -
vivo sim muito feliz.”
FIM
Escrito e ilustrado por volta de 2008/2009