sábado, 12 de março de 2016

A Transcriação da Canção em Edward Lear


A TRANSCRIAÇÃO
DA CANÇÃO
EM EDWARD LEAR




  1. A Transcriação Haroldiana 
  2. Cancionista e Canção: Lear e “The Courtship of the Yonghy-Bonghy-Bò” 
  3. Arantes e “O Galanteio do Iôngui-Bôngui-Bó” 
  4. Anexos:

Anexo 1: poema original 
Anexo 2: partitura original 
Anexo 3: ilustrações originais 
Anexo 4: tradução de José A. Arantes – O Galanteio do Iôngui-Bôngui-Bó 
Anexo 5: tradução de Cecilia Furquim – A Corte do Yonghy-Bonghy-Bò 





Cecilia Silva Furquim Marinho
Trabalho de finalização do curso de Teoria da Tradução
Prof. Maria Tereza Quirino
Casa Guilherme de Almeida
Curso Formativo 2015
Fevereiro de 2016




Agradeço ao maestro Gualtieri Belloni Filho pela orientação de prosódia e análise musical utilizada neste artigo. 


A Transcriação Haroldiana

Este trabalho pretende analisar a primeira tradução brasileira feita da canção: “The Courtship of the Yonghy-Bonghy-Bò”[1] de Edward Lear (1812-1888), poeta, pintor e desenhista inglês do século XIX. Autor de diversos limeriques (forma breve poética), canções e alguns contos para crianças. Considerado o pai do nonsense inglês. Usarei a comparação entre as escolhas do tradutor José Antonio Arantes[2] e o trabalho original para ressaltar conquistas e problemas gerados por Arantes na sua recriação, usando o conceito formulado por Haroldo de Campos que acredita na tradução de poesia enquanto transcriação. Para finalizar, apresentarei uma nova proposta de tradução para o poema feita por mim, utilizando esses parâmetros.

Haroldo de Campos (1929-2003) é profícuo poeta, tradutor, ensaísta e um dos maiores pensadores da tradução no Brasil.  Tem sua teoria tradutória amparada em outros pensadores da tradução, entre eles, Walter Benjamin (1892-1940), que acredita que: “A tradução é uma forma. Para entendê-la como tal, é preciso retroceder ao original. Pois nele jaz a lei da tradução, como que oclusa na sua própria traduzibilidade.” (TÁPIA, 2013, pp 211-213)[3]. Antes de conhecer o trabalho de Benjamin porém, Haroldo já havia construído um  pensamento análogo a partir  de conceitos de Max Bense, quando este distingue ‘informação documentária’ e ‘informação estética’ e quando afirma: “a informação estética não pode ser codificada senão pela forma em que foi transmitida pelo artista” (Ibidem, p 3)[4]. Haroldo, em texto de 1962, afirma: “Teremos, como quer Bense, em outra língua uma outra informação estética, autônoma, mas ambas estarão ligadas entre si por uma relação de isomorfia: serão diferentes enquanto linguagem, mas, como os corpos isomorfos, cristalizar-se-ão dentro de um mesmo sistema. ... Então, para nós, tradução de textos criativos será sempre recriação, ou criação paralela, autônoma, porém recíproca” (Ibidem, pp 4 e 5).  Sobre o papel do conteúdo na tradução do poema, Haroldo diz: “O significado, o parâmetro semântico, será apenas e tão somente a baliza demarcatória do lugar da empresa recriadora.”(Ibidem, p 5). Benjamin se refere a esse conteúdo semântico da obra  como sendo ‘inessencial’[5], indicando que o essencial mesmo é a forma. Mais adiante, em 1985, Campos revela que retomou suas elaborações teóricas a partir do contato não só com Benjamin, como também com o linguista Jakobson (1896-1982), e a partir daí prefere usar o termo ‘transcriação’ (entre outros) para a tarefa do tradutor de poesia, falando também da relação desejada entre texto original e texto traduzido como sendo uma relação de ‘paramorfia’ substituindo o termo ‘isomorfia’ usado anteriormente.

“Jakobson está propondo uma ‘física’ da tradução de poesia. A isso chama ‘transposição criativa’ (creative transposition). Pedagogicamente, o procedimento do poeta-tradutor (ou tradutor poeta) seria o seguinte: descobrir (desocultar), por uma “operação metalinguística” voltada sobre o plano formal (da expressão ou do conteúdo), qual o código de “formas significantes” de que o poema representa a mensagem ou realização ad hoc (qual a equação de equivalência, de comparação e/ ou contraste de constituintes, levada a efeito pelo poeta para construir o seu sintagma); em seguida reequacionar os constituintes assim identificados, de acordo com critérios de relevância estabelecidos in casu, e regidos, em princípio, por um isomorfismo icônico, que produza o mesmo sob a espécie da diferença na língua do tradutor (paramorfismo, com a idéia de paralelismo – como em paráfrase, em paródia ou em paragrama – seria um termo mais preciso, afastando a sugestão de “igualdade” na transformação, contida no prefixo grego iso-).” (Ibidem, p 93 in “Da Transcriação: Poética e Semiótica da Operação Tradutora”)

A contribuição de Benjamin para o pensamento de Haroldo se dá também na crença de que a tradução deve ser “estranhante” e não “naturalizadora”. Aqui ele demonstra que o leitor não deve ter a impressão de que o texto traduzido tenha sido escrito em sua própria língua. Aliás, o crítico alemão libera o criador, poeta ou tradutor poético, de escrever sua obra em função da comunicação com o leitor. Sobre essa estranheza, Campos coloca:

o tradutor (segundo a lição de Rudolph Pannwitz) deve “estranhar” sua língua, alargá-la, “deixá-la ser violentamente sacudida” (gewaltig bewegen zu lassen) pelo original, em lugar de preservá-la do choque, deve helenizar o alemão ao invés de germanizar o grego, por exemplo.” (Ibidem, p 103)

Outro ponto crucial para Haroldo é a noção benjaminiana de “traduzibilidade”, que ele interpreta qualificando o texto com maior carga estética como aquele que mais se presta à tradução poética, ao contrário da visão convencional:

“A noção de “traduzibilidade” na teoria benjaminiana, refoge à idéia convencional, para incluir-se naquela mesma série de conceitos disruptores que afrontam a teoria tradicional: trata-se de uma “traduzibilidade” a ser mensurada segundo o “modo de formar” do original, segundo a densidade deste e não segundo o seu significado no plano da comunicação. Assim, “quanto menores sejam o valor (Wert) e a dignidade (Wurde) da língua do original, quanto mais elevado seja o seu teor de comunicação (Mitteilung), tanto menos ele tem a oferecer à tradução”; no sentido, ao invés de “servir de alavanca”para uma operação tradutora “plena de forma” (eine formvolle Ubersetzung), acaba por frustrá-la ; por outro lado, “quanto mais altamente elaborada (geartet) tenha sido uma obra, mais ela permanecerá traduzível, ainda que no mais fugidio contato com seu sentido”. (Ibidem, p 35 in “Tradução: Fantasia e Fingimento” - 1983)

A teoria tradutória de Haroldo é portanto de natureza crítica, mantendo relações com a semiótica, e com valores do que seria válido ou não. Crítica a partir da seleção dos textos a serem traduzidos, e também como forma válida de renovação, transformação, “antropofagia” da tradição na cultura atual.  Dentro dos estudos da tradução, se fossemos usar o mapa de Holmes[6], essa teoria se colocaria na categoria de estudos aplicados (Applied): Translation criticism, em contraste com outros estudos onde o foco é teórico ou descritivo, porém mantendo pontos de contato com eles.    

                   
Cancionista e Canção: Lear e “The Courtship of the Yonghy-Bonghy-Bò”

Nessa busca de uma tradução, ou ‘transcriação' da canção de Lear, segundo parâmetros Haroldianos, é necessário identificar aspectos fundamentais de natureza estética do poema original que operam dentro da “baliza demarcatória” dos conteúdos. A partir desta “operação metalinguística” será possível vislumbrar, nesse trecho, características específicas da obra original e, no trecho seguinte deste artigo, ganhos e perdas que o tradutor de “Yonghy” tenha estabelecido neste sentido. Meu trabalho terá portanto um aspecto descritivo do que cada criação/ recriação traz, e um aspecto crítico que valoriza a opção transcriadora, em detrimento de outros parâmetros tradutórios.   

O primeiro aspecto formal que gostaria de salientar é a música que envolve o poema. O linguista e músico Luiz Tatit desenvolveu uma teoria da canção em seu livro O cancionista, em que define o status de um compositor desse gênero como alguém dotado do controle sobre o malabarismo em que palavras e melodia se encontram no equilíbrio da obra[7]. A partir deste olhar sobre o cancionista, proponho o olhar sobre as Nonsense songs de Lear dando especial valor ao seu elemento canção/song, que define uma obra feita para ser cantada e não para ser somente lida, um olhar que não destaca dois elementos que são complementares e interdependentes. “The Courtship of the Yonghy-Bonghy-Bò” se presta a esta análise por ter sua melodia original preservada fornecendo toda a combinação dos elementos utilizados pelo cancionista Lear na criação final. Como músico, Lear cantava, tocava piano e compunha tanto a melodia de suas próprias letras como também musicou muitos poemas românticos e vitorianos, com destaque para os que fez para Alfred Tennyson (1809-1892). Também tocava o acordeão, a flauta e o violão. Nunca tocou profissionalmente, mas apresentava suas composições em inúmeros eventos sociais. Apesar disso não tinha o costume de registrar sua música em partituras. De um conjunto de vinte letras de canções suas publicadas, somente duas notações musicais sobreviveram. As partituras que preservaram estas canções foram feitas e arranjadas pelo Professor Pomè[8] de San Remo, onde Lear viveu.

A busca desse olhar parece ser óbvia no caso de vários outros cancionistas do século XX, cuja obra é imediatamente relacionada ao seu elemento musical fundante, como Cole Porter, Cartola, Chico Buarque. Como a tecnologia de registro de música no século XX já estava bem desenvolvida, os apreciadores desses cancionistas eram apresentados ao poema cantado desde o início, ficando difícil imaginar aqueles versos destacados da melodia que os acompanha. No caso de Lear, a recepção de sua obra, por pessoas que não tiveram contato direto com ele, já foi desde o começo feita quase que unicamente através do livro. Isso pela ausência de mecanismos acessivos de registro por um lado e por outro porque seus versos pertencem a essa categoria de canções que resiste à leitura desvinculada da música, tem um poder poético independente que torna possível essa apreciação. Isso contribuiu para que suas songs passassem a ser reproduzidas, divulgadas, lidas e traduzidas como se fossem apenas poemas, e o elemento canção ficasse vivo somente no título: nonsense songs. Daí que propor a leitura deles recuperando sua melodia seja algo que exija um esforço de pesquisa e contextualização. No caso das duas canções com melodia preservadas, é preciso ter acesso à partitura e ter conhecimento de leitura musical para devolver a música aos versos e apreciá-los na sua plenitude formal de canção. No caso das demais canções sem melodia preservada, esse olhar pediria uma nova melodia, o esforço de um outro cancionista parceiro, capaz de criar música que se equilibre com a letra desse poeta nonsense.

Não é possível identificar com certeza se Lear fez o poema “Yonghy[9]” antes da melodia ou vice versa, ou mesmo se as duas coisas surgiram juntas. Qualquer que seja a ordem, no entanto, são duas faces da mesma moeda, feitas para se complementarem e se reforçarem. A melodia traz uma canção simples monotemática, com ritmo anacrúsico.  Tem vinte compassos de tempo binário (cada compasso com dois tempos) acrescidos de uma coda com mais dois compassos. A coda é a repetição da última seção, concluindo e arrematando a peça. A canção não tem o equilíbrio de uma forma clássica, o que aconteceria se tivesse oito, dezesseis ou vinte e quatro compassos, por exemplo. A escolha de vinte compassos, quebrando o acréscimo clássico de oito em oito, traz uma liberdade maior de composição, característica da música romântica que absorve a canção clássica, ampliando-a.  Do ponto de vista da prosódia, não há nenhum melisma, o que significa que palavras e notas se encaixam perfeitamente, sem necessidade de estender a sílaba para que duas ou mais notas se encaixem. Na partitura do Professor Pomè a música acolhe a primeira das dez estrofes do poema, dando a entender que as demais estrofes devem seguir a mesma melodia da primeira, não havendo nenhum momento de mudança melódica de uma estrofe à outra, apesar do poema ter mudanças consideráveis no desenvolvimento do seu enredo narrativo.  A cada estrofe de dez versos acrescidos de mais um igual ao anterior (cantado na coda) a melodia se repete, podendo, porém, receber um arranjo que criaria contornos diferenciados para sua realização nos diferentes momentos, o que é comum nos arranjos de canções.  

A música se inicia com um inciso (célula temática com sentido em si mesma) musical que acompanha um inciso poético:
Essa partitura utiliza o tom mi maior e três notas (mi, fá, sol – duas semicolcheias e uma colcheia) que aparecem em iniciação anacrúsica, ou seja, com um tempo não acentuado do grupo rítmico que conduz para o tempo acentuado seguinte. Na leitura poética, o inciso verbal de três sílabas “On the Coast” se dá através de um anapesto (duas sílabas breves e uma longa), que acompanha esse ritmo musical anacruse. Essa escolha, do ponto de vista semântico, acentua de imediato um lugar. Tal apresentação em suspenso é que vai gerar todo o enredo: a descrição do lugar (A Costa de Coromandel, na Índia[10]); o retrato da personagem principal que viveu nesse lugar (Yonghy-Bonghy-Bò); o pedido de casamento que Yonghy faz à personagem feminina (Jingly Jones) para viverem juntos neste cenário; a descoberta da impossibilidade amorosa entre um homem solteiro e uma senhora já casada, o que impõe a recusa do pedido; a fuga de Yonghy para longe desse lugar; e a tristeza que lá permanece no coração inconformado de Jingly.  Tudo é gerado a partir do lugar.  Da mesma forma, o inciso musical (mi,fá,sol) é que vai gerar toda a composição, seu ritmo, o ponto de repouso e a continuidade.

O chamado tema musical nessa composição é a continuidade do inciso, o seu desenvolvimento:  
Ele corresponde ao primeiro verso do poema. O tema desenvolve toda a canção, por isso ela é considerada monotemática. A cada novo verso, uma variação do tema melódico. A cada verso, dois compassos (sendo meio, um e depois meio). As dez estrofes poéticas também são regulares, todas tem rimas no esquema ABCBAACCCBB. O ritmo que soa natural na leitura mantém todos os versos com dois pés, apresentando os versos de rima ‘B’ E ‘C’ com um anapesto e um peônio (três breves e uma longa), enquanto os versos de rimas ‘A’ se diferenciam dos demais apenas por uma sílaba átona a mais (UU- UUU-U). Isso acontece pela escolha de palavras paroxítonas, o que gera na música uma nota a mais. As demais rimas têm sempre palavras oxítonas, muito comuns na língua inglesa. No entanto, quando o texto se casa com a melodia, daí surge um ritmo ternário na maioria dos versos (1, 2, 4, 5, 6 e 9), na medida em que a posição de notas mais longas e com uma notação musical pontuada também aparece acompanhando a quinta sílaba nesses versos, além da terceira e da sétima. Assim, podemos verificar abaixo:


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11

On the Coast of Coromandel         
   Where the early pumpkins blow,      
      In the middle of the woods       
   Lived the Yonghy-Bonghy-Bò.         
Two old chairs, and half a candle,     
One old jug without a handle--         
      These were all his worldly goods, 
      In the middle of the woods,      
      These were all his worldly goods,
   Of the Yonghy-Bonghy-Bò,            
   Of the Yonghy-Bonghy Bò.            
rimas
A
B
C
B
A
A
C
C
C
B
B
ritmo da leitura
UU-  UUU-U 
UU-  UUU-
UU-  UUU-
UU-  UUU-
UU-  UUU-U
UU-  UUU-U
UU-  UUU-
UU-  UUU- 
UU-  UUU-        
UU-  UUU-
UU-  UUU-    
ritmo do canto
UU-    U-        U-U 
UU-    U-        U-
UU-    UUU-
UU-    U-        U-
UU-    U-        U-U
UU-    U-        U-U
UU-    UUU-
UU-    UUU-
UU-     U-       U-
UU-    U-        U-
UU-    U-        U-

O paralelismo pintado de cinza acima serve como uma espécie de ‘refrão; e assim o designaremos neste artigo. Ele, ao longo das dez estrofes, ecoa os sons anasalados do ‘ô’ no canto do nome da personagem Yonghy-Bonghy-Bò. A estranheza e assonância desse nome, assim repetido, contribui para um efeito de humor e brincadeira. De acordo com Vivian Noakes, biógrafa de Lear, ele teria se inspirado na “linguagem de um empregado italiano do artista, o qual acabava todas as sentenças com o incompreensível refrão: ‘Dighu Dóghi Dà’.”[11] Outros paralelismos ocorrem com o 3o e 8o versos (In the middle of the woods) e entre  o 7o e 9o versos (These were all his wordly goods). Nas demais estrofes essas equivalências se mantém ou completamente ou parcialmente.
                      
             Analisando mais detalhadamente os significados, temos imagens de um lugar exótico, com matas (woods) carregadas de “Bong-trees” e “pumpkins”, numa costa selvagem e pedregosa (wild and shingly). O mar é exaltado como calmo e silencioso (calm and silent sea) e provedor (“Shrimps and watercresses grow / Prawns are plentiful and cheap”,  “Fish is plentiful and cheap;”); e a profundidade desse mar é comparada ao amor que Yonghy tem por Jingly (“As the sea my love is deep”). A costa é montanhosa com ladeiras deslizantes (“slippery slopes of Myrtle”). Yonghy é descrito na terceira pessoa pelo narrador, e em discurso direto pelo próprio Yonghy e pela mulher amada, Jingly. O narrador acentua sua escassez de forma engraçada, pois ele possui apenas duas velhas cadeiras, metade de uma vela e uma jarra sem a asa (“Two old chairs and half a candle / One old jug without a handle”) indicando alguém que não tem casa própria, que vive ao relento sem conforto.  Jingly se refere a ele como Mr. Yonghy-Bonghy-Bo, por ser inglesa, e seu comentário traz o momento mais engraçado do poema que é reforçado pelas duas ilustrações[12]: Yonghy teria um corpo pequenininho e um cabeção (“Though you’ve such a tiny body / And your head so large doth grow/ Though your hat may blow away” / “Though you’re such a Hoddy Doddy”). O estranho e desproporcional aqui se confunde com engraçado e ao mesmo tempo atraente, pois ela o ama mesmo assim e vemos uma identificação também do narrador com a personagem masculina. Esse poema é considerado pela crítica[13] uma obra com aspectos autobiográficos de Lear, onde sua experiência pessoal de desejo conjugal e quase proposta de casamento se projetam nessas personagens. A ‘lady Jingly’ é inglesa, tem um marido que mora longe na Inglaterra onde mantém seu negócio (Handel Jones, Esquire & Co), de lá ele envia a ela galinhas inglesas de raça pura (Hens of Dorkings), sugerindo que seu negócio tenha alguma relação com a comercialização desses animais. A distância entre marido e mulher indica um casamento sem convivência, provavelmente sem amor, com finalidade prática, o que explica a afeição que ela sente por Yonghy e sua solidão e tristeza no fim do poema, quando ela chora e geme (weeps and moans) para suas galinhas, sua única companhia. Yonghy oferece a ela sentimento amoroso puro e uma vida simples, em contraste com a frieza e segurança financeira que recebe do marido. O humor nessa canção é carregado de melancolia, elementos recorrentes na obra poética de Lear, com um final infeliz, também não raro em seus poemas. Outra personagem que aparece é a tartaruga grande (large and lively turtle), também ilustrada no segundo desenho de Lear que fecha o poema. Ela vive numa baía, outro ponto geográfico dos arredores que recebe o nome de “Bay of Gurtle” (o nome fictício vem para rimar com turtle). Com sua ajuda, montado em seu casco, Bonghy foge de seu lar pelo mar para poder esquecer a rejeição, correndo rumo às ilhas ensolaradas de Boshen (sunset isles of Boshen – que rima com motion).
                       
           Essas imagens e relações se apresentam com uma carga estética de tal modo consistente, que, mesmo quando apreciada sem a melodia musical, sua poesia salta aos olhos deixando o significado em segundo plano. As experiências sonoras de Lear no campo poético vão além do ritmo, rimas e paralelismos já mencionados e se espalham também numa quantidade de aliterações e assonâncias marcantes, como: Coast of Coromandel; Jingly Jones; Lady Jingly; slippery slopes; silent sea; lay a large and lively turtle, bem como a presença de algumas paronomásias: singly/ shingly, well/ farewell.
                       
              Segundo estudiosos do nonsense, diferentemente dos limeriques, as suas canções não seriam exemplos plenos do gênero, tal qual ele é definido por acadêmicos. De acordo com Klaus Reichert em estudo de 1974, parafraseado por Myriam Ávila (Ávila, 1996, p20-21)[14], pesquisadora do nonsense no Brasil, o nonsense vitoriano teria os seguintes traços: “a justaposição de coisas totalmente disparatadas. ... as palavras se relacionam umas com as outras por critérios que não levam em conta seu significado. ... a qualidade básica do nonsense, ainda segundo Reichert, é a imprevisibilidade”. Segundo Ávila, as nonsense songs de Lear não são puramente nonsensicas pelo fato de investirem no sentido, por terem começo, meio e fim. Apesar disso ela reconhece que as canções contenham elementos do nonsense, como: personagens estranhas, trechos disparatados, palavras nonsense, neologismos e ortografia não ortodoxa. Porém, ela continua, esse nonsense seria superficial já que não prejudica a compreensão do texto nem a sua coesão gramatical (Ibidem, p63). De qualquer forma, esses elementos levemente estranhos influenciam o seu tom e isso podemos perceber em “Yonghy”. Nesse sentido, se destacam as expressões: ‘Bong-trees’, ‘silent-roaring ocean’, ‘milk-white Hens of Dorking’ e um estranho corte de verso no meio da palavra: Yet I wish that I could modi-/ fy the words I needs must say! A gramática desse último verso também estranha, já que ‘needs’ não concorda com ‘I’, nem é comum o uso conjunto desses verbos. De acordo com Haroldo de Campos, “Yonghy” seria uma canção “traduzível”, não por seu conteúdo e sim por suas qualidades estéticas. E uma delas, que tem sido ignorada, é o fato de ser uma ‘canção’ em sentido pleno.

Arantes e “O Galanteio do Iôngui-Bôngui-Bó”

Arantes, ao traduzir os quatro volumes da coletânea de Harold Bloom[15] para crianças, Contos e Poemas para Crianças Extremamente Inteligentes de todas as idades[16], oferece esta canção depois de duas outras de Lear já apresentadas ao leitor na ordem estabelecida por Bloom: “The Owl and the Pussy-cat” aparece no volume intitulado “primavera”, “The Jumblies” no início do volume intitulado “verão” e no fim deste mesmo volume vem “Yonghy”. A primeira característica que chama a atenção em minha análise é a de que Bloom não incluiu na coletânea, em que apresenta uma breve biografia de Lear, nenhuma menção ao fato desses poemas terem sido songs. Portanto a escolha do organizador, seguida pelo tradutor, é a de ignorar não só a melodia já existente, como também a relação que os poemas estabelecem com a música, se realizando em comunhão com ela. A tradução de Arantes será, portanto, voltada para o aspecto poético da letra somente.

Em sua tradução, o título ‘O galanteio do Iôngui-Bôngui-Bó’ mantém o estranho e divertidamente sonoro nome ‘indiano’ da personagem principal, escolha que valoriza o estranhamento e o espírito de brincadeira que Lear adotou em seu nonsense. No seu título, porém, Arantes opta por quebrar a assonância tripla do ‘ô’, colocando um acento grave no último ‘o’. Isso implicará em mudar a sonoridade de todas as rimas ‘B’, o que ele faz traduzindo o verso “Where the early pumpkins blow” por “onde floresce a orobó”, trocando o fruto ‘pumpkin’, por orobó, uma árvore nativa da África que tem esse nome aqui no Brasil, e colocando-a na posição final. Também vai trazer nessa rima, nas demais estrofes, outras palavras como ‘boró’ (peixe da região do Amazonas), ‘dó’, ‘só’, ‘pão-de-ló’, ‘um ó’ ( no verso “sem dizer um ó”, uma gíria brasileira significando: “sem dizer nada”). Apesar da perda da assonância tripla no nome mais produtivo do poema, pois ele é ecoado por três vezes em cada estrofe, funcionando como o nosso ‘refrão’, apesar disso a proposta do som aberto contribui com uma divertida sonoridade nessa recriação, inserindo este ser ‘desconhecido’ num ambiente de sons, flora e fauna brasileiros, especialmente o elemento indígena de nossa cultura, cheio de nomes em ‘ó’. Também o nome do herói ou anti-herói da estória, apesar da manutenção do som estranho, passa a ter uma grafia brasileira, trocando o ‘Y’ por ‘I’ e o ‘ghy’ com ‘h’ por ‘gui’, sugerindo que Iongui pudesse ser uma pessoa diferente daqui mesmo.

A disposição tipográfica dos versos no papel segue a mesma lógica feita nos originais de Lear, que distancia a posição dos grupos de rimas ‘A’, ‘B’ e ‘C’ entre si. Essa disposição, portanto, fortalece visualmente a importância da sonoridade da rima perfeita na obra nonsense de Lear, o que é seguido por Arantes. A publicação brasileira exagerou a distância tipográfica entre esses grupos de versos, como pode ser observado no quadro abaixo.

A caracterização do cenário deixa de ser aquele estranho longínquo que realmente existe (a Costa de Coromandel na Índia) para ser um estranho imaginário que pode ser nosso, pois em “Iôngui Bó” o cenário passa a ser ‘litoral de Coramela’, um espaço fictício que pode estar em qualquer lugar imaginário ou não, inclusive no Brasil. Essa escolha quebra o longínquo real, cujos relatos conquistavam especial fascínio em crianças, tradicionalmente trazidos por viajantes que alimentavam a imaginação daqueles que permaneciam em espaços conhecidos. Mesmo hoje, com a inexistência da distância virtual entre espaços, o contato real com lugares distantes e exóticos continua a enfeitiçar nossa imaginação com as imagens, sons, cheiros e tudo o que o real abarca. A natureza viajante de Lear é um ponto distintivo de sua experiência poética e plástica, já que viajou pelo mundo em busca de novas paisagens para sua arte, ao mesmo tempo em que procurava um clima melhor para sua saúde. A recriação de Arantes transpõe a sonoridade e significado dos nomes das personagens inglesas para algo correspondente. Aqui Jingly Jones é dona ‘Dinho Dinhas’, Mr. Jones (Handel Jones, Esquire & Co.) é senhor Goela (Goela Dinhas, S.A.), dando espaço para brincadeiras sonoras, que mantém rimas, assonâncias e aliterações: Dinho Dinhas; Goela rimando com panela. O nome Goela é particularmente engraçado, fiel ao humor leariano e o sobrenome ‘Dinhas’ evoca sutilmente o significado do nome Jingly, que em inglês é um adjetivo para qualificar algo reverberante, que tem uma série de sons agudos de sinos, como se fossem vários sininhos[17]. O plural em ‘Dinhas’ evoca reverberação, o som ‘i’  evoca o som agudo e o sufixo ‘inha’ evoca algo pequenino. Além disso, no plano semântico, por contraste, Dinhas sugere ‘dinheiro’, ‘dindim’, valor atribuído ao status do marido inglês, que mantém uma empresa na Inglaterra e possivelmente faz relações comerciais com a Índia enviando galinhas de linha (Hens of Dorking), tendo a esposa como contato no local. A relação deles aparece como puramente de natureza econômica. Não por acaso, o nome Handel significa ‘comércio’, enquanto o nome Goela pode referir-se a alguém ganancioso.

O ritmo do poema nessa recriação salta aos olhos. Arantes optou por trabalhar com um ritmo binário próximo ao do esquema original de leitura. No sistema silábico do Português ele teria sempre sete sílabas, acentuadas na terceira e na sétima. Arantes criou um ritmo aproximado, porém irregular. Mantém os dois grupos diferenciados de pés com uma mudança considerável no quinto e sexto versos (em negrito), pois estes recebem duas sílabas a mais. Outras irregularidades são observadas na inclusão de uma sílaba átona a mais no início dos versos um, dois e quatro (em negrito), bem como uma acentuação variável no primeiro pé das rimas ‘C’ (sublinhadas). Portanto o esquema do tradutor segue à risca o ritmo original somente nos três últimos versos. Nas demais estrofes, o número de sílabas por vezes segue o esquema da primeira, por vezes muda e a acentuação também é consideravelmente flutuante.


1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11

 No litoral de Coramela         
          Onde floresce a orobó,      
                       No meio da mataria       
          Morava o Iôngui-Bôngui-Bó.         
Duas velhas cadeiras, uma vela,     
E uma velha e batida panela         
                       Eram o que possuía. 
                       No meio da mataria,      
                       Eram só o que possuía
          O Iôngui-Bôngui-Bó,            
          O Iôngui-Bônghi Bó.            
rimas
A
B
C
B
A
A
C
C
C
B
B
Esquema original  
UU- UUU-U  
UU- UUU-
UU- UUU-
UU- UUU-
UU- UUU-U
UU- UUU-U
UU- UUU-
UU- UUU-
UU- UUU-
UU- UUU-
UU- UUU-
Esquema de Arantes
  UUU-       UUU-U
  UUU-       UUU-
    U-U        UUU-
  UUU-       UUU-UUUU-      UUU-U
     UU- UUUUU-
     -UU       UUU-U
     U-U       UUU-U
     UU-       UUU-U
     UU-       UUU-
     UU-       UUU-

A manutenção/recriação ‘paramórfica’ da estrutura original do ritmo tem outros seguidores convictos nos estudos recentes de tradução além do brasileiro Haroldo. Também os franceses Henri Meschonic (1932-2009) e Antoine Berman (1942-1991) consideram-na fundamental na sua visão tradutória. O filósofo e tradutor Berman julga a ‘destruição dos ritmos’ como uma tendência deformadora da obra como um todo, afetando seu movimento, seu tom[18]. O poeta e tradutor Meschonnic diz: “Eu não considero mais o ritmo uma alternância formal do mesmo e do diferente, dos tempos fortes e dos tempos fracos. ... entendo o ritmo como a organização e a própria operação do sentido no discurso.”[19] (Meschonnic, 2010). Na recriação de Arantes, a sua manutenção de um ritmo marcado com dois pés, ainda que não perfeitamente regular, é já um fator favorável. A percepção dessa qualidade mais musical do seu ritmo fica ainda mais evidente se o compararmos com a recriação que  Dirce Waltrick do Amarante[20] fez desta canção. Amarante valoriza mais o aspecto semântico da narrativa e enfraquece consideravelmente o ritmo original, se distanciando, portanto, do parâmetro ‘transcriador’ escolhido aqui para investigação teórica e prática. Se na poesia lida ou declamada esse aspecto formal já gera uma defesa prioritária consistente de vários teóricos, na poesia cantada então, ele passa a ser um divisor de águas. Para ser ‘cantável’ a poesia se submete ao ritmo musical, cada sílaba correspondendo a uma nota, cada tônica sendo feita no ponto de convergência das notas mais longas ou pontuadas. Nesse sentido a já considerada dificuldade de equações inerente à tradução de poesia se intensifica ainda mais na tradução de canções. Se Arantes hipoteticamente tivesse perseguido esse objetivo, precisaria fazer uma série de ajustes para convergir sua letra na melodia de Lear. Como este não é o caso, ele não precisou se preocupar com isso. Sua tradução tem valor quando lida, já que na leitura a irregularidade não impede uma acentuação condizente com a naturalidade da língua, que vai se moldando e mudando a cada verso.  

Como conclusão, José Antonio Arantes e a coletânea brasileira de Bloom contribuiu com as primeiras traduções publicadas no Brasil das canções de Lear (na forma escrita), divulgando este gênero seu aqui entre nós. É importante lembrar que uma década antes, José Paulo Paes[21] havia sido o primeiro a publicar limeriques learianos, o que foi seguido em 2003 por Belinck[22] e Maffei[23] com a mesma forma poética breve. Neste mesmo ano, no entanto, a editora Objetiva nos oferece não mais limeriques, mas canções/ songs de Lear/Arantes, entre as quais esta que soube valorizar parte considerável de elementos estéticos da obra original, e priorizá-los na construção do texto de chegada. Assim, a sonoridade carregada de aliterações, assonâncias e a manutenção importante das rimas perfeitas, a brincadeira com as palavras, aliada ao tom melancólico do desencontro (que ele recria incorporando interjeições como ‘ah’ e ‘ai’), bem como a sugestão dos nomes fazem essa recriação caminhar no sentido ‘transcriador’ defendido por Haroldo. A liberdade de utilização de gírias e sons ligados ao elemento indígena brasileiro no ambiente poético diminui um pouco o ‘estranhamento’ do tipo ‘estrangeiro’, mas cria por outro lado uma sonoridade de certa forma também estranha aos ouvidos dos brasileiros modernos, desconectados de suas raízes. O ritmo binário marcado que oscila entre sete e nove sílabas com acentuação variável, mesmo numa tradução lida, poderia se aproximar ainda mais da idéia de paramorfia se fosse mais regular. Isso sem falar da opção que questiono, de ignorar a melodia original e o fato de a forma estética dessa obra ter sido criada para ser cantada. Nesse sentido a publicação de Dirce Amarante contribui com a divulgação do status do poema original, já que, apesar de também ignorar a parceria musical em sua tradução, feita igualmente para ser somente lida, ela menciona tratar-se de uma song e apresenta a partitura original ao lado da tradução.  

Desta reflexão, um convite a uma nova tradução que resgate esse elemento estético ignorado, seguindo de perto a experiência que pai e filho Campos fizeram com outras três canções de Lear[24] (e que os irmãos Furquim[25] também fizeram com uma delas) quando traduziram e musicaram exemplos de canções que naquele caso não tinham a partitura original preservada. Convite este que aceitei fazer para uma publicação futura e que ofereço abaixo[26], como trabalho em processo, que procura “reequacionar” os constituintes identificados no original pelo princípio do paramorfismo, elegendo o ritmo e a sonoridade geral, principalmente a capacidade de ser ‘cantável,  como “essenciais” ao resultado final. Por isso apresento a tradução dentro da partitura e uma gravação do original (1a estrofe) e da tradução cantada[27] acompanhando este trabalho para substituir a visualização das notações musicais, o que exige um preparo especializado.

Preferi manter a palavra ‘corte’ no título para intensificar a assonância do ‘ô’ ainda mais. O inciso ‘On the Coast’ que cria de imediato um suspense sobre o que o complementaria, foi transposto para: ‘Bela é’. Também optei por manter um pouco mais o distanciamento ‘real’ do cenário indiano na manutenção da palavra seguinte Coromandel, com a liberdade de colocá-la no feminino pela busca da rima. Pelo mesmo motivo, desloquei o discurso indireto do narrador nos versos 7 a 9 para discurso direto do Yonghy, perseguindo a rima (e paronomásia) de ‘resta’ (no presente) com floresta’. Também reproduzi a paronomásia well/ farewell em ‘peço/despeço’, que alude não só ao significado de dizer adeus, como também, embora não usual, pode ser considerado o negativo de ‘peço’, ‘reverter um pedido’, o que faz sentido no contexto geral do poema. Para buscar correspondências de ritmo, me ajustando à natureza mais alongada da língua Portuguesa, abri mão de muitas palavras que trazem detalhes adicionais, como ‘early’, ‘in the middle’, ‘without a handle’ e outros.  Por isso, refiro-me ao que seria ‘A Costa de Coromandela’, deixando o substantivo ‘Costa’ implícito, deslocando a informação dessa natureza geográfica para o oitavo verso: ‘Junto ao mar e à floresta’. A utilização de palavras paroxítonas no lugar de oxítonas em posição final (resta / floresta) não prejudica o ritmo e harmonia da canção, pois a tônica recai sobre uma nota semínima, que tem o mesmo valor de duas colcheias. Para firmar o estranho estrangeiro do poema ainda mais, não mudei a grafia do nome da personagem principal. A nacionalidade inglesa do casal Lady Jingly e Mr. Handel Jones foi transposta para ‘Jovem Júlia’ e ‘Mr. Ariel Green’, aportuguesando a pronúncia do primeiro nome e mantendo a pronúncia inglesa do sobrenome. Na interpretação da canção, optei por fazer a voz em discurso direto da personagem Júlia Green com sotaque inglês para reforçar essa diferença. Não consegui até o momento descobrir uma forma de transpor a agramaticalidade de ‘I needs must say’.

 





Anexo 1: poema original - The Courtship of the Yonghy-Bonghy-Bò


On the Coast of Coromandel          
   Where the early pumpkins blow,       
      In the middle of the woods        
   Lived the Yonghy-Bonghy-Bò.          
Two old chairs, and half a candle, —     
One old jug without a handle, —          
      These were all his worldly goods:  
      In the middle of the woods,       
      These were all his worldly goods, 
   Of the Yonghy-Bonghy-Bò,             
   Of the Yonghy-Bonghy Bò.             

Once, among the Bong-trees walking
   Where the early pumpkins blow,
      To a little heap of stones
   Came the Yonghy-Bonghy-Bò.
There he heard a Lady talking,
To some milk-white Hens of Dorking —
      “ ’Tis the Lady Jingly Jones!
      “On that little heap of stones
      “Sits the Lady Jingly Jones!”
   Said the Yonghy-Bonghy-Bò,
   Said the Yonghy-Bonghy-Bò.

“Lady Jingly! Lady Jingly!
   “Sitting where the pumpkins blow,
      “Will you come and be my wife?”
   Said the Yonghy-Bonghy-Bò.
“I am tired of living singly, —
“On this coast so wild and shingly, —     
       “I’m a-weary of my life;
       “If you’ll come and  be my wife,
       “Quite serene would be my life!” —
   Said the Yonghy-Bongby-Bò,
   Said the Yonghy-Bonghy-Bò.

“On this Coast of Coromandel,
   “Shrimps and watercresses grow,
      “Prawns are plentiful and cheap,"
   Said the Yonghy-Bonghy-Bò.
“You shall have my chairs and candle,
“And my jug without a handle! —
      “Gaze upon the rolling deep
      (“Fish is plentiful and cheap; )
      “As the sea, my love is deep!”
   Said the Yonghy-Bonghy-Bò,
   Said the Yonghy-Bonghy-Bò.

Lady Jingly answered sadly,
   And her tears began to flow, —
      “Your proposal comes too late,
   “Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!
“I would be your wife most gladly!”
(Here she twirled her fingers madly,)
      “But in England I’ve a mate!
      “Yes! you’ve asked me far too late,
      “For in England I’ve a mate,
   “Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!
   “Mr. Yongby-Bonghy-Bò!”
“Mr. Jones (his name is Handel, —
   “Handel Jones, Esquire, & Co.)
      “Dorking fowls delights to send,
   “Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!
“Keep, oh! keep your chairs and candle,
“And your jug without a handle, —
      “I can merely be your friend!
      “— Should my Jones more Dorkings send,
      “I will give you three, my friend!
   “Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!
   “Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!

“Though you’ve such a tiny body,
   “And your head so large doth grow, —
      “Though your hat may blow away, 
   “Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!
“Though you’re such a Hoddy Doddy —
“Yet I wish that I could modi-
      “fy the words I needs must say!
     “ will you please to go away?
      “That is all I have to say,
   Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!
   Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!”

Down the slippery slopes of Myrtle,
   Where the early pumpkins blow,
      To the calm and silent sea
   Fled the Yonghy-Bonghy-Bò.
There, beyond the Bay of Gurtle,
Lay a large and lively Turtle; —
     “You’re the Cove," he said, “for me;
      “On your back beyond the sea, 
      “Turtle, you shall carry me!”
   Said the Yonghy-Bonghy-Bò,
   Said the Yonghy-Bonghy-Bò.

Through the silent-roaring ocean
   Did the Turtle swiftly go;
      Holding fast upon his shell
   Rode the Yonghy-Bonghy-Bò.
With a sad primeval motion
Towards the sunset isles of Boshen
      Still the Turtle bore him well.
      Holding fast upon his shell,
      “Lady Jingly Jones, farewell!”
   Sang the Yonghy-Bonghy-Bò,
   Sang the Yonghy-Bonghy-Bò.

From the Coast of Coromandel,
   Did that Lady never go;
      On that heap of stones she mourns
   For the Yonghy-Bonghy-Bò.
On that Coast of Coromandel,
In his jug without a handle,
      Still she weeps, and daily moans;
      On that little heap of stones
      To her Dorking Hens she moans,
   For the Yonghy-Bonghy-Bò,
   For the Yonghy-Bonghy-Bò.



Anexo 2: partitura original





Anexo 3: Ilustrações originais








Anexo 4: tradução de José Antonio Arantes - O Galanteio do Iôngui-Bôngui-Bó


 No litoral de Coramela         
          Onde floresce a orobó,      
                       No meio da mataria       
          Morava o Iôngui-Bôngui-Bó.         
Duas velhas cadeiras, uma vela,     
E uma velha e batida panela         
                       Eram o que possuía. 
                       No meio da mataria,      
                       Eram só o que possuía
          O Iôngui-Bôngui-Bó,            
          O Iôngui-Bônghi Bó.            

Um dia, entre as bônguis andando         
          Onde floresce a orobó,      
                       Um montinho de pedrinhas      
          Notou o Iôngui-Bôngui Bó.         
Ouviu uma dona conversando     
Com galinhas brancas de Golando        
                       “É a dona Dinho Dinhas! 
                       No montinho de pedrinhas      
                       Está a dona Dinho Dinhas
          Disse o Iôngui-Bôngui-Bó,            
          Disse o Iôngui-Bônghi Bó.            

“Ó Dona Dinho! Ó Dona Dinho!         
          Onde floresce a orobó,      
                       Tu me aceitas como esposo?”       
          Propôs o Iôngui-Bôngui-Bó.
“Cansei de viver aqui sozinho
Neste litoral em que definho,
                       Cansei de ser ansioso. 
                       Aceita-me como esposo,      
                       Pois sou muito carinhoso!”
          Disse o Iôngui-Bôngui-Bó,            
          Disse o Iôngui-Bônghi Bó.            

“No litoral de Coramela,        
          Dá camarão e boró,      
                       De peixes grátis fecundo”,       
          Falou o Iôngui-Bôngui-Bó.         
“Terás minhas cadeiras, a minha vela,     
E também a minha velha panela!         
                       Olha esse mar que é um mundo 
                       (De peixes grátis fecundo),      
                       Como ele, o amor é profundo!”
          Disse o Iôngui-Bôngui-Bó,            
          Disse o Iôngui-Bônghi Bó.            

E disse a dona com tristeza,         
          Quase chorando de dó:        
                       “Chega tarde o teu pedido,       
          Ah, senhor Iôngui-Bôngui-Bó.         
Seria tua esposa com certeza!”     
(E torceu o dedo com afoiteza)         
                       “Mas já tenho um bom marido! 
                       Chega tarde teu pedido,      
                       Na Inglaterra está o marido,
          Senhor Iôngui-Bôngui-Bó!            
          Senhor Iôngui-Bônghi Bó!”            
 “O Dinhas (digo, senhor Goela,         
          Goela Dinhas, S.A., só)      
                       Sempre me manda galinha,       
          Sim, senhor Iôngui-Bôngui-Bó.         
Por isso fica, ah, fica com a vela,     
As cadeiras e a velha panela.         
                       Mas posso ser tua amiguinha! 
                       Se receber mais galinha,      
                       Dou-te três, como amiguinha,
          Senhor Iôngui-Bôngui-Bó,            
          Senhor Iôngui-Bônghi Bó.            

“Apesar de seres miudinho,         
          Com a cabeça pão de ló     
                       E o chapéu que o vento adora,       
          Ah, senhor Iôngui-Bôngui-Bó!,           
Apesar de até engraçadinho,     
Devo moderar um poucochinho         
                       O que te digo por ora! 
                       Se importa de dar o fora?      
                       É o que te digo por ora,
          Senhor Iôngui-Bôngui-Bó,            
          Senhor Iôngui-Bônghi Bó.            

Descendo a ladeira de Aruga,         
          Onde floresce a orobó,      
                       No calmo e calado mar       
          Foi ter o Iôngui-Bôngui-Bó.         
Lá na baía de Gartaruga,     
Viu uma grande e forte tartaruga:       
                       “És um barco singular 
                       Que muito longe no mar      
                       Nas costas vai me levar!
          Disse o Iôngui-Bôngui-Bó,            
          Disse o Iôngui-Bônghi Bó.            

Foi-se a tartaruga, um corisco,         
          Ao mar, sem dizer um ó!      
                       Agarrado à carapaça,       
          Singrou o Iôngui-Bôngui-Bó.         
Com um triste movimento prisco     
Ela o carregou às ilhas de Isco,         
                       Resistindo sem negaça. 
                       Agarrado à carrapaça,     
                       “Dona Dinhas, tudo passa!”
          Cantou o Iôngui-Bôngui-Bó,            
          Cantou o Iôngui-Bônghi Bó.            

No litoral de Coramela         
          A dona ainda vive só.      
                       Nas pedrinhas ainda chora,       
          Ai, pelo Iôngui-Bôngui-Bó.         
No litoral de Coramela,     
Na velha e batida panela,         
                       Todo dia ela ainda chora. 
                       Nas pedrinhas, ai, e agora?,      
                       As galinhas ela chora
          Pelo Iôngui-Bôngui-Bó,            
          Pelo Iôngui-Bônghi Bó.       


Anexo 5: tradução de Cecilia Furquim – A Corte do Yonghy-Bonghy-Bò

Bela é Coromandela
   Onde a abóbora brotou,
      E viveu nesta floresta
   O Yonghy-Bonghy-Bò.
Duas cadeiras, meia vela, —
E uma velha vó tijela. —
      Ele disse: “É o que me resta:
      Junto ao mar e à floresta,
      Isto é tudo o que me resta”,
   disse o Yonghy-Bonghy-Bò,
   disse o Yonghy-Bonghy-Bò.

Uma vez, ali passando 
   Onde a abóbora brotou,
      Rumo às pedras com capim
   Veio o Yonghy-Bonghy-Bò.
Uma dama ouviu falando,
Com galinhas do seu bando, — 
      “Eis a jovem Júlia Green!
      Sobre as pedras com capim
      Eis a jovem Júlia Green!”
   Disse o Yonghy-Bonghy-Bò,
   Disse o Yonghy-Bonghy-Bò.

“Jovem Júlia, meu alento!
   Onde a abóbora brotou,
      Você quer casar, querida,
   Com o Yonghy-Bonghy-Bò?
Solidão, eu não aguento, —
Nesta selva, pedra e vento,—
      Estou cançado dessa vida;
      Se unir-se a mim, querida,
      Ilumina a minha vida!” —
   Disse o Yonghy-Bonghy-Bò,
   Disse o Yonghy-Bonghy-Bò.

“Bem aqui em Coromandela,
   Muito fruto o mar criou,
      Camarão é bem barato,”
   Disse o Yonghy-Bonghy-Bò.
“Dou-lhe a velha vó tijela
E as cadeiras, meia vela!,
      Veja bem, além do mato       
      (Peixe aqui é bem barato);
      Como o mar eu amo, grato!”
   Disse o Yonghy-Bonghy-Bò,
   Disse o Yonghy-Bonghy-Bò.

Júlia disse, chateada,
   E seu pranto desabou, —
      “Veio tarde seu pedido,
   Mr. Yonghy-Bonghy-Bò,
Eu seria sua amada!”
(e ficou toda agitada,)
      “Mas, porém, no Reino Unido,
      Sim! Já tenho um marido!
      Veio tarde seu pedido,
   Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!
   Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!

“O seu nome é Ariel, lá:
   Mr. Green, Esquire, & Co.
      Ele envia estas galinhas,
   Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!
Pegue, ah! Pegue a vó tijela,
E as cadeiras, meia vela, —
      Só lhe dou, das coisas minhas,
      Amizade e três galinhas!
     — das de linha que são minhas,
   Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!
   Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!

“Em seu corpo tão miúdo,
   A cabeça aumentou, —
      E se move como um sino,  
   Mr. Yonghy Bonghy Bò!
Mesmo assim daria tudo
Por você. Porém, contudo,
      Estou presa ao meu destino!
      Se afaste, pequenino,
      Este é pois o meu destino —
   Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!
   Mr. Yonghy-Bonghy-Bò!”

Pelas rampas deslizantes,
   Onde a abóbora brotou,
      Para o quieto e manso mar
   Foi o Yonghy-Bonghy-Bò.
Na Baía de Mirantes,   
Tartarugas são gigantes; —
      “Tartaruga, pelo mar,
      Você vai me carregar!
      Em seu casco, um novo lar,” 
   Disse o Yonghy-Bonghy-Bò,
   Disse o Yonghy-Bonghy-Bò.

O animal pelo oceano
   Em silêncio, zás, singrou;
      E em seu casco com sucesso  
   Foi o Yonghy-Bonghy-Bò.
Muito triste, em desengano,
Rumo às ilhas de Boshano
      “Sim, me leve além, eu peço,
      Em seu casco com sucesso.
      Jovem Júlia, me despeço!”
  Disse o Yonghy-Bonghy-Bò,
  Disse o Yonghy-Bonghy-Bò.

Junto à Coromandela,
   Júlia sempre ali ficou;
      Sobre as pedras ela chama
   Pelo Yonghy-Bonghy-Bò.
Junto à Coromandela, 
E na velha vó tijela,
      O seu choro ali derrama;
      Sobre as pedras ela chama
      Pras galinhas se derrama,
   Pelo Yonghy-Bonghy-Bò,
   Pelo Yonghy-Bonghy-Bò.  




[1] Primeiramente publicado em 1886 no livro Laughable Lyrics. A Fourth Book of Nonsense Poems, Songs, Botany, Music, &c. A fonte que será utilizada para este trabalho é uma reconstituição da nona edição desse e de outro livro primeiramente lançado em 1871 (Nonsense Songs and Stories), revisada e publicada por Frederick Warne & Co em 1894. Os dados da edição facsímile são: LEAR, Edward. Nonsense Songs and Stories. Chancelor Press, Londres, pp61-66.
[2] Além de romances, contos, biografias e ensaios, Arantes tem diversas publicações de tradução de poesia, entre elas: Seamus Heaney (Companhia das Letras, 1998), O Matrimônio do Céu e do Inferno / O livro de Thel de William Blake (Iluminuras, 2007) e Marianne Moore (Companhia das Letras, 1991).
[3] BENJAMIN, Walter traduzido por CAMPOS, Haroldo in “Apêndice – Tradução da Parte Inicial de “A Tarefa do Tradutor”, de Walter Benjamin in Haroldo de Campos – Transcriação / organização Marcelo Tápia, Thelma Médici Nóbrega. 1ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. 
[4] BENSE, Max citado por Haroldo in “Da Tradução Como Criação e Como Crítica (1962).   
[5] Ao comentar uma das características distintivas da má tradução, Benjamin em “A Tarefa do Tradutor” assim a define: “uma transmissão inexata de um conteúdo inessencial”. Ibidem. p212.
[6] James Homes é autor do mapa que descreve a nova disciplina ‘estudos de tradução’ dividindo estes estudos em duas categorias (Pura e Aplicada): “The Name an Nature of Translation Studies” (1972) in The Translation Studies Reader / edited by Lawrence Venuti. Taylor & Francis e-Library, 2004, p182.
[7] In: TATIT, Luiz. “Dicção do Cancionista”. in: O Cancionista: composição de canções no Brasil. São Paulo, Edusp, 1996, pp. 10-11. 
[8] A partitura dessa canção pode ser consultada no anexo 2, página 11. Ela aparece no mesmo texto fonte já citado, ao lado do poema (p 60), com as indicações de ter sido arranjada pelo Professor Pomè, de San Remo, Itália. A melodia também pode ser apreciada na gravação que acompanha esse trabalho.
[9] O texto poético completo pode ser consultado no anexo 1, página 10.
[10] Esse local não é fictício como vários outros que Lear criou em sua obra, inclusive neste mesmo poema. Ele fica no sudeste da Índia, na Baía de Bengala.
[11] AMARANTE, Dirce. “Notas da Tradução” in Lear, Edward. Viagem numa peneira: poesia e prosa/ Edward Lear; organização, apresentação, tradução e notas Dirce Waltrick do Amarante – São Paulo: Iluminuras, 2011, p 155. Nestas notas, Amarante cita a opinião de Vivian Noakes.
[12] As duas ilustrações que acompanham o poema podem ser consultadas no anexo 1, página 12.
[13] Segundo AMARANTE, Dirce (Ibidem p. 155), Thomas Byron teria indicado a intensidade pessoal do autor presente no lirismo desse poema. Ela afirma que esses versos foram escritos “durante o período da sua primeira proposta de casamento abortada a Gussie Parker e da notícia do seu subsequente noivado com Adamson Parker” (p 156)
[14] Ávila, Myriam. Rima e Solução. A poesia Nonsense de Lewis Carrol e Edward Lear. São Paulo: Annablume, 1995.
[15] Harold Bloom (1930) é professor titular de Ciências Humanas, na Universidade de Yale, tendo anteriormente ocupado a cátedra na Universidade de Harvard.
[16] BLOOM, Harold (organizador) Contos e Poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as idades. Tradução de José Antonio Arantes – Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. Arantes recebeu o prêmio FNLIJ de 2004 na categoria ‘Tradução Jovem’ por esse trabalho. Ver p13 deste artigo.
[17] Conforme o aplicativo “Advanced English Dictionary”: Adjective 1. having a series of high-pitched ringing sounds like many small bells (jingling) / Adjective 1. Jingling, jingly = reverberant.
[18] Berman, Antoine. A tradução e a Letra ou o Albergue do Longínquo. Florianópolis: PGTE/UFSC, 2013. p 78
[19] Meschonnic, Henri. A Prática: é a teoria (Ritmo e tradução) in Poética do Traduzir. São Paulo: Perspectiva, 2010. p 43.
[20] A publicação já citada de Dirce (Iluminuras, 2011) tem grande importância na medida em que, além de trazer novas recriações de 45 limeriques, também inova trazendo o abecedário, vinte exemplos da botânica de Lear, um poema autobiográfico e também inclui três de suas canções: “The Owl and the Pussycat” (“A Coruja e a Gatinha”), “Os Jamblins” (“The Jumblies”) e “The Courtship of the Yonghy-Bonghy-Bò” (“O Galanteio do Iongui-Bongui-Bô”).
[21] Sem cabeça nem pé (São Paulo: Atica, 1992): tradução de 17 limeriques por José Paulo Paes.
[22] Um caldeirão de Poemas (São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2003): tradução de 9 limeriques de Lear, por Tatiana Belinck, juntamente com a tradução que ela fez de vários outros poetas que escreveram para crianças e uma série de poemas próprios. A autora era uma entusiasta da obra de Lear e embora tenha publicado traduções esparsas de poemas do autor, fez uma grande variedade de poemas e estórias inspirados no seu nonsense, em especial nos seus limeriques, ajudando assim a promover esse aspecto da sua obra.
[23] Adeus ponta do meu nariz! (São Paulo: Hedra, 2003): tradução de todos os 90 limeriques do 1º livro de Lear por Marcos Maffei.
[24] A maior seleção e a primeira publicação de canções de Lear em forma cantada no Brasil foi traduzida por Augusto de Campos e musicada por Ivan Campos no CD Crianças Crionças – selo Sesc, 2009. O CD possui 3 canções do autor nonsense. São elas: The Duck and the Kangaroo (A Pata e o Canguru); The Table and the Chair (A Mesa e a Cadeira) e The Owl and the Pussycat (O Mocho e a Gatinha), porém essa última não foi musicada integralmente, apenas a 1ª estrofe e os últimos cinco versos da 3ª estrofe.
[25] Também eu fiz uma tradução do poema The Owl and the Pussycat (A Coruja e o Gato) musicada por meu irmão, Beto Furquim, e lançada em forma escrita e cantada no livro/CD: LEAR, Edward. A coruja, o gato e os filhotes. São Paulo: Melhoramentos, 2013. O livro recebeu a láurea de “Altamente recomendado para a criança” 2014, pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
[26] A minha tradução completa pode ser consultada no anexo 5, página 14.
[27] A gravação tem MIDI e voz masculina de Gualtieri Beloni Filho e voz feminina feita por mim. Gravada no estúdio de Luiz Waack em fevereiro de 2016.