terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

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cecilia furquim


sábado, 25 de outubro de 2008

A dona do time

Conto de
Cecilia Furquim

Imagens da Internet


Essa mulher era uma dona, que se gabava de ser uma dona durona, uma dona que ia durar, fosse qual fosse a dor. Seu nome: Donina.

Ela tinha um time bem bom, um time de boleiros. Boleiro, você sabe, é aquele que joga um bolão. Ela achava que eles eram batutas só porque treinavam no campo dela, não percebia que eles podiam ser bons em outro campo também.

O time não ganhava todas as partidas, mas ganhava muitas. E aí vinha o prêmio: um montão de chocolates, e balas e biscoitos gostosos.


















Mas Donina não repartia irmãmente, repartia donamente. Seis para ela e cinco para todos os outros dez. E ai de quem reclamasse!

Quando um boleiro estava cansado e queria um pouco mais de doce para repor as energias, ou então, queria um time que fosse menos donável, esse boleiro resolvia mudar de time. Ia falar com Donina, explicar, dar tchau, devolver aquela camisa.

Ai, ai, ai. Um raio caía bem no meio da quadra.
- Traição! Traição!

Donina jogava praga praquele jogador até a quinta geração. Brigava com o outro time que chamou ele, fazia um estardalhaço.






Quando era Donina que queria expulsar alguém do time, não podia achar ruim.

_ O time não está ganhando por sua causa, dizia. Só você é que não percebe. Você nunca vai ser boleiro, desista!

O jogador respondia:

_ Mas já joguei um montão de partidas e só perdi poucas, não pode ser isso. Talvez seja a estratégia, ou pode ser que eu esteja numa fase ruim, acontece com todo mundo. Já aconteceu até com o Ronaldinho.

Donina falava:
_ Não, não. Eu tenho olho pra isso. Eu sei que você é que não sabe jogar. Tome meu conselho, que ele é de amiga, para o seu bem. Faça algo que não precisa de bola






E aquele que “não era mais boleiro, nem nunca tinha sido” saía chateado, arrasado.

Mas, aos pouquinhos, acabava encontrando espaço noutro time e percebia que aquilo não era verdade. Percebia que, fora, até jogava melhor, andava melhor, corria melhor, chutava melhor, que é o que acontece quando se é mais feliz.























Acontece que Donina se achava tão durável, que muita gente acreditava nela, porque as gentes acreditam muito na donice e na duronice.

E o tempo foi passando e um número grande de ‘traidores’ e ‘traidoras’ já tinham saído do time, e um número grande de gente que ‘nunca foi nem vai ser boleiro’ já tinha sido expulso. Era tanta gente saindo, tanta gente entrando, que alguns daqueles que acreditavam na donice durona começaram a desconfiar dela.

Isso foi bem na época do grande campeonato, um campeonato pra dono nenhum botar defeito, com prêmios dulcíssimos.

Donina, com seu time cheio de gente nova, entrou no campo. Ela era a capitã! Olhou para o outro lado e viu um time cheinho de velhos traidores. O traidor Juca, a traidora Juliana, o traíra João e a traidora-mor Janaína. Junto deles, os incompetentes José Carlos, a Jade e outros velhos descartados.

Donina pensou:

_ Ainda bem que os traidores estão tão mal acompanhados, assim não vão ganhar.














Mas ganharam!

Donina saiu gritando:
_ Juiz ladrão!


















E mandou, no dia seguinte, todos os seus jogadores novos embora, dizendo que a culpa também tinha sido deles.

Saíram todos e entrou um time inteiro de gente mais nova ainda.

Será que um dia a donice durona da Donina vai mudar?
Não sei! Só sei que enquanto ela não mudar, o time dela é que vai ficar mudando, sem parar.







FIM!

domingo, 1 de junho de 2008

O garotinho negro



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The Little Black Boy


My mother bore me in the southern wild,
And I am black, but O! my soul is white;
White as an angel is the English child:
But I am black as if bereav'd of light.

My mother taught me underneath a tree
And sitting down before the heat of day,
She took me on her lap and kissed me,
And pointing to the east began to say.

Look on the rising sun: there God does live
And gives his light, and gives his heat away.
And flowers and trees and beasts and men receive
Comfort in morning joy in the noon day.

And we are put on earth a little space,
That we may learn to bear the beams of love,
And these black bodies and this sun-burnt face
Is but a cloud, and like a shady grove.

For when our souls have learn'd the heat to bear
The cloud will vanish we shall hear his voice.
Saying: come out from the grove my love & care,
And round my golden tent like lambs rejoice.

Thus did my mother say and kissed me,
And thus I say to little English boy;
When I from black and he from white cloud free,
And round the tent of God like lambs we joy:

I'll shade him from the heat till he can bear,
To lean in joy upon our fathers knee.
And then I'll stand and stroke his silver hair,
And be like him and he will then love me.

William Blake

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O garotinho negro

Minha mãe me teve em terra selvagem,
Sou negro, porém minha alma é alva;
A criança ao norte tem branca imagem
Sendo negro, me falta a luz que salva.

Aprendi com mamãe sob uma árvore
Ela sentada, antes do amanhecer,
Comigo ao colo, a beijar minha face
E a olhar o leste, começou a dizer:

“Onde o sol nasce, é ali que Deus mora
E espalha luz e irradia o calor.
A flor,a planta, o bicho e o homem sorvem
O alento da manhã e a intensa cor.

E envoltos somos em pequeno ninho,
Onde cultivar centelhas de laços,
E esta face queimada e o corpo tinto
É só uma sombra que paira no espaço.

Pois quando o espírito suporta os raios
A sombra some, e ouvimos a voz
Dizendo: o corpo da treva, tirai
E deixai meu ouro pousar em vós.

Assim mamãe falou em tom suave,
E assim repito ao garoto do norte;
Quando, livres da preta ou branca nuvem,
Entregarmos a Deus a nossa sorte:

Até que ele possa agüentar o fogo,
E curvar-se diante de nosso pai,
Nele farei sombra. Então, num afago
Serei amado, seremos iguais.

tradução: Cecilia Furquim


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domingo, 4 de maio de 2008

A mosca

























The Fly


Little Fly
Thy summers play,
My thoughtless hand
Has brush'd away.

Am not I
A fly like thee?
Or art not thou
A man like me?

For I dance
And drink & sing:
Till some blind hand
Shall brush my wing.

If thought is life
And strength & breath:
And the want
Of thought is death;

Then am I
A happy fly,
If I live,
Or if I die.


William Blake





A mosca


Pequena mosca
seu vôo-verão
minha mão tola
levou ao chão.

Não sou eu
bicho que voa?
e não é você
como eu, pessoa?

Meu ser dança
E canta e casa
Até que mão cega
Decepe minha asa

Se o pensar
É vida, sorte
E sua falta
é ôca morte

Então sou
mosca em júbilo
Tanto vivo
Como no túmulo



Cecilia Furquim











A rosa enferma

William Blake (1757-1827)






























The Sick Rose



O Rose, thou art sick!
The invisible worm
That flies in the night,
In the howling storm,

Has found out thy bed
Of crimson joy:
And his dark secret love
Does thy life destroy








A rosa enferma


Rosa, estás enferma
O verme, não vemos,
Mas voa na sombra
No uivo dos ventos

Percorrendo a cama
De gozo carmim
Teu amor oculto
Te arrasta pro fim.



Cecilia Furquim







Nós

Do nó da carne
Não se move
O nó da carne
Não se comove

Se ata
Se não ata
é dor inata

A sós
ou só
A gente sofre



Cecilia Furquim - maio de 2008

Dora Amora


Letra e música: Cecilia Furquim




Comendo amora
Lembrei da Dora
Que dó! Faz tempo
que ela não vem




É hora Dora
O pé de amora
Se vê lá fora
É só provar



Os seus dois pés
Vem já botar
Aos pés do pé
Onde o amor mora
moradoramoradoramoradora



É lá que jorra
Que o verde cora
E logo molha
O céu da boca



Agora, Dora
Não perde o ponto
A fruta aflora
E se oferece



Amor à vista
É só pegar
Menina vem cá
dourar o amor
douramoradoramoradoramora








FIM

domingo, 13 de janeiro de 2008

A marcha da chuva






Música e letra de Cecilia Furquim













Após um tórrido sol,
que sem descanso ferveu
dias e dias nas férias
chega a chuva no céu
molhando o mar com a sua água
juntando doce e sal



Somem logo os banhistas
as crianças ficam tristes
passatempo não existe
em suas casas trancadas.
Nada de nadar no mar
nem de noite passear
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Enquanto os outros lamentam
as plantas todas aplaudem
e agarram-se as cigarras
bem felizes a cantar

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Viva, viva a chuva fria
Nós aqui gostamos dela
Viva a noite umedecida
Viva a chuva, como é bela
.
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O som gostoso das gotas
sobre as costas das coisas
é saudado pelo grilo
e o reflexo do brilho
do piscar dos vagalumes
lembra fogos de artifício



Vai e vem toda brejeira
a fusão de céu e terra
e o toque-toque lá no brejo
de sapo martelo
ecoa nesta algazarra
de vida dentro da mata



Besouro voa com abelha
gafanhoto com barata
borrachudo e borboleta
numa bêbada alegria



Viva, viva a chuva fria
Nós aqui gostamos dela
Viva a noite umedecida
Viva a chuva, como é bela!



Até a Maria fedida
ganha beijo da aranha
e lá vêm as lagartixas
vêm brincando de ciranda
com as donas muriçocas
girando ao redor das poças



Essa farra infinita
com efeito assim embala
a soneca das crianças
em suas camas aninhadas



Viva, viva a chuva fria
Nós aqui gostamos dela
Viva a noite umedecida
Viva a chuva, como é bela!





FIM
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quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Registros praieiros











OS TRÊS COQUEIROS

Hoje eu soube da estória dos três coqueiros daqui da nossa casa da praia. Um sou eu, os outros dois: meus irmãos. Apesar disso, nunca fomos nomeados neles, pois se um coqueiro acaso morresse, não seria um vaticínio para nós. Suas mudas não foram recomendadas ou certificadas. Recolhidos, pois, na estrada, sem pedigree, foram trazidos e plantados pelas mãos da mamãe e cresceram apesar das doenças.

O do meio, possivelmente eu, é mais baixinho. Segundo a Dora, o mais lindo, segundo a dona (Marisa) só esta assim abundante, por não ter sido podado recentemente. Seus côcos não são lá uma gostosura, mas dá pra tomar a água. Já tiveram morcegos ali habitando, e muitas e muitas lagartas.

Se sua água e assim assim, se não são imperiais, compensa o serem imponentes e perseverantes, assim como nós. Marcaram a casa que os toma como a casa dos três coqueiros.


Cecília Furquim. São Sebastião, 31 de dezembro de 2007.


















frutos de cajueiro anão precoce

imagem retirada de:
http://www.biotecnologia.com.br/revista/bio06/caju07.jpg


O CAJUEIRO ANÃO E SUA DONA

Eu sou o cajueiro anão que a Dona Marisa ganhou de um amigo da sua prima Rita, lá de Bebedouro. Ele é funcionário da ‘estação experimental da cidade’, um espaço onde se faz experiências agrícolas na criação de diferentes mudas. Desculpem-me o orgulho, caros coqueiros: a minha muda sim, tem pedigree. Dona Isa resolveu que minha terra seria em São Sebastião, em sua simpática casa térrea de veraneio, em atenção ao nosso gosto profundo por lugares quentes e litorâneos. Aqui, na “Praia das Cigarras”, cheguei em 2006. Dona Isa veio da cidade só pra me trazer e com toda a deferência fui entregue aos cuidados da Tatiana, caiçara cuidadora oficial da casa. Fui plantado pelo seu irmão Jaiminho entre as duas casas, a edícula e a nova, e desde então sempre que Tatiana vinha ao meu lar, a primeira coisa que fazia era deitar seu olhar sobre meus 40 cms de folhas e minha primeira flor, indício de que logo viria o primeiro fruto. Sua degustação já estava sendo antecipada nas movimentações salivares da imaginação da Dona Isa. Nos telefonemas à patroa, já começava dando noticias minhas, antes de passar aos outros detalhes de sua conversação. Pouco mais ou menos de um mês, uma voz desesperada:

- Alô! Você não sabe o que aconteceu! O cajueiro sumiu.

Dona Isa na sua investigação interna tem como certeiro o nome do criminoso: Seu Valdemar, um caseiro de uma das casas da praia que faz bicos como pedreiro. Tinha sido o único a me vislumbrar. Eu não me lembro dele não, mas a Isa tem certeza de que ele deve ter me admirado quando entrou aqui para fazer o acabamento do muro do vizinho de trás. Admirou com uma cobiça de Nordestino que conhece e valoriza frutos como os meus. Deve ter aguardado uma noite fora de temporada, na calmaria e tédio do meio da semana costeira, e pulado o muro para me levar daqui.

Eu não posso confirmar nada, pois nós os cajueiros anões só temos o poder de adivinhar os pensamentos e sentir e interpretar o que nos rodeia, quando somos oferecidos de bom grado por nosso criador. Desde que fui roubado, passei a ser de fato, o que a maioria de vocês humanos diz: apenas uma planta, que nasce, cresce, vive, morre, sem consciência, sem julgamentos, moral, metafísica, linguagem ou coisa do tipo. Toda a minha alma agora, se restringe ao passado que me tomou antes daquele fatídico roubo. Mas continuo adivinhando os pensamentos de minha antiga e legítima dona, a apaixonada Dona Isa. Ela está bastante ocupada recebendo o filho mais velho, nora e netos em seu apartamento de São Paulo, até que eles consigam formalizar a compra de nova casa própria. Também bastante ocupada ficando com a netinha da filha do meio, volta e meia. E dando atenção também ao ramo do mais novo. Continua passando as férias nas Cigarras, lá tem muita coisa pra cuidar. Isso sem falar nos tricôs que faz, costuras, livros que devora, filmes que assiste e novelas que acompanha. Mesmo assim a Dona Isa acha tempo para lembrar de mim e ficar vermelha de raiva deste Valdemar. Entre um e outro palavrão, daqueles impronunciáveis na boca de uma distinta senhora como ela, arquitetou o seguinte plano:

- Eu ainda vou encontrar um meio de dizer a ele que sei o que fez. Um dia vou encontrá-lo e muito respeitosamente cumprimentá-lo e à sua esposa. Como vai Valdemar, como vai fulana. E como vai o meu cajueiro anão, ele vai bem?

Essa sua única possibilidade de vingança. E eu vou adivinhar sua satisfação e ficarei também satisfeito. Enquanto meu corpo segue sua sina, sem que eu saiba como, quando e onde; minha alma vai acompanhando Dona Isa, atado que estou às suas alegrias e sobressaltos.


Cecília Furquim. São Sebastião, 01 de janeiro de 2008.







A BORBOLETA BAILARINA


A menina Gabi é uma borboleta bailarina. Hoje!

Ela também costuma ser um cãozinho, um gatinho, uma girafa, uma sereia, uma sereia princesa ou apenas uma princesa. Na maioria das vezes é a Cinderela. É a mãe, a professora Raquel ou Mariana, a assistente da professora. Normalmente a mãe.

Chamada pelo papai de ‘pin pin’, ‘tampinha’, ‘gorduchinha’.
Pela mamãe de ‘filha’, ‘gabibi’, ‘gabirosca’.
Seu pé é um pãozinho, que mamãe sempre ameaça comer, e a bundinha uma carne gostosa que deve ser comida também.

- Posso? diz a mamãe.

Ela ri e fala:

- Não, comer não, só carinho!

Mamãe faz carinho, dizendo,

- Eu queria muito comer. Deixa?
- Não!
- Ah, então eu vou apertar!

Aperta e ela ri muito, fugindo, querendo ser caçada.
Fala bastante “eu te amo”, ameaça dar um beijo “nim você”, e dá.

Quando quer gozar os outros, mania do papai, chega e fala:

- Chocolate na cueca!

Ou então:
- Cuequinha!

Essa provocação ela pegou de mim.
Do desenho “backyardigans” ficou com o costume de receber os outros com susto:

-Buuuuuuuu!

Já gostou muito da fantasia de Branca de Neve, Aurora e Cinderela. Neste Natal ficou encantada com os presentes do papai Noel, entre eles a roupa de bailarina e outra da Hello Kit na sua cor rosa, a favorita. Ela pediu que sua próxima fantasia seja uma cauda verde da Ariel. Agora aprecia mais a da bailarina e da borboleta juntas.

Todo mundo gosta dessa borboleta bailarina, mas ela nem sempre gosta de todo mundo. Implicou com a Berê, que não quis emprestar seus brinquedos, e vingou-se negando-se a emprestar os dela também. Mas agora já mudou de idéia.
No geral está sempre de bem com todos e com a vida.

Como diz a Vovó: é um presente de Deus!



Cecília Furquim. São Sebastião, 01 de janeiro de 2008.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Desmaio






















DESMAIO
Letra e música de Cecilia Furquim, apresentada no Sarau 'Chama Poética: Da Alegria'; sexta, dia 7/12/2007, às 20h, na biblioteca Alceu de Amoroso Lima. Acompanhamento de Éder Melgar.


Cuidado que eu sou
Cuidado que eu

Eu pairo, eu caio
Sereno de maio
e na madrugada
meu bem não me deixa dormir.

Eu sou do meio

de maio das mães
das gordas cadeiras
de manhas e mamas leiteiras.

Severa me interno
na mágoa do rio
e muda de inverno
me planto só meia saída



Sandália arrastada
e dália na sala
Desfolha-me a malha voraz

Sonada na cama
e de camisola
eu bailo de banda, sou nada

mas que malcriada
criada da casa
na tortura sua eu suo

Cuidado que eu sua
Cuidado que eu

Sereno de maio
Ser nó e desmaio
E na madrugada
Meu bem já me deixa dormir.




imagem retirada de: http://www.estacaocapixaba.com.br/textos/folclore/gsn/roda/sereno.html

Dream a little dream of me
















imagem retirada do site:

Duas versões diferentes da mesma música:


DREAM A LITTLE DREAM OF ME
Música: Wilber Schwandt e Fabian André - Letra: Gus Kahn

Stars shining bright above you
Night breezes seem to whisper "I love you"
Birds singing in a sycamore tree
Dream a little dream of me.

Say nighty-nighty and kiss me
Just hold me tight and tell me you'll miss me
While I'm alone and blue as can be
Dream a little dream of me.

Stars fading but I linger on dear
Still craving your kiss
I'm longing to linger till dawn dear
Just singing this.

Sweet dreams till sunbeams find you
Sweet dreams that leave all worries behind you
But in your dreams whatever they be
Dream a little dream of me.




SONHO UM SONHO A ME ENVOLVER
Tradução e versão: Cecilia Furquim
Apresentada no sarau 'Chama Poética: Longa é a arte, tão breve a vida'; na biblioteca Alceu Amoroso Lima, no dia 9 de novembro, às 20 horas. Acompanhamento no violão de Marcelo Américo.


Estrelas luzem chama
A brisa vem dizer que te ama
Os pássaros cantando no ipê
Sonho um sonho a me envolver.

Boa noite, vem me afaga.
Me beija e diz que eu faço falta
Enquanto estou sozinha a sofrer
Sonho um sonho a me envolver.

Estrelas se vão, mas eu fico
Querendo o teu mel
No canto pedindo o meu brilho
Em claro céu.

Sonhos doces, raios laçam
Sonhos doces, onde a calma abraça
Vem sopra nos teus sonhos pra ter
Sonho um sonho a me envolver.





SONHO UM SONHO SÓ PRA MIM
Tradução e versão de Beto Furquim

O brilho das estrelas
A brisa que me assopra: te amo
Uirapuru no pé de açai
Sonha um sonho só pra mim

Me beija, noite alta
Me abraça e me promete saudade
Sozinho essa tristeza sem fim
Sonha um sonho só pra mim

Estrelas cansadas desmaiam
Mas eu não dormi
Um beijo meus lábios ensaiam
Cantando assim.

Um raio de sol flagra
Um sonho tão bonito que acaba
Mas seja lá o que sonhes enfim
Sonha um sonho só pra mim.





En saio coisa: João Gilberto e Anton Webern -







Resenha apresentada em Outubro de 2007 na disciplina: ‘Literatura e música no Brasil’; ministrada pelo professor José Miguel Wisnik.



EN SAIO COISA


No texto “João Gilberto / Anton Webern” [1], o ensaísta, tradutor, crítico e poeta concreto Augusto de Campos celebra a invenção na música popular inventando um ensaio crítico que sai da convencional prosa-uninarrada-contínua. Ao comentar o gênero de seu trabalho, denomina-o “coisa” [2]. Ela foi publicada no livro ‘Balanço da bossa e outras bossas’, que por sua vez é uma republicação da obra ‘Balanço da Bossa’ (com doze textos), acrescida de mais dezenove textos. A segunda edição foi lançada em 1974, enquanto a primeira havia saído em maio de 1968, em plena efervescência tropicália. Nesse acréscimo, o autor (in)completa um registro reflexivo do que de mais relevante e inovador se havia produzido na música popular e seus pontos de contato com a música erudita de vanguarda. Como ele mesmo afirma no último texto ‘Balanço do balanço’, ao buscar a captação viva de algo presente e em constante mutação, não poderia enquadrar os acontecimentos daquele momento numa reflexão acabada, mas poderia perseguir os preceitos de Ezra Pound no reconhecimento das ‘news that stays news’ (notícias que permanecem novidade). Assim o fez. Lido hoje, 2007, o livro nos remete aos anos bossa nova - tropicália sem deixar de sugerir uma conexão com o que hoje se faz ou se desfaz na MPB.

O ensaio/coisa que pretendo analisar é o penúltimo texto da obra, e gira em torno da ‘notícia-contínua-novidade’ de dois músicos considerados pelo autor inventores por excelência. Um é o austríaco Anton Webern que, junto com Schoenberg e Alban Berg, revolucionou a música erudita do século vinte; o outro é João Gilberto, que revolucionou a MPB com a BN, seu jeito de cantar cool, os efeitos despojados e tensos, desconcertantes do seu violão. No ensaio, Augusto como que sumariza o que já, no livro, havia sido dito anteriormente sobre Webern, Caetano, Lupicínio, João especialmente, e outros. A ‘coisa’ denuncia, já na composição gráfica do título, o entrelaçamento das escolhas de João e Webern, a fusão do erudito e do popular na MPB. Isso vem como forma e conteúdo juntos não só no título, mas no desenvolvimento do texto, como deve ser uma verdadeira síntese.

Ao falar da vanguarda musical dodecafônica, que suprime a hierarquia das notas da escala cromática; e da vanguarda sofisticada dissonante da BN, reduzida de contrapontos; Augusto mistura suas considerações às de outros comentadores dos músicos inventores. Retirou-as de cartas, biografias, entrevistas, depoimentos variados, apresentados sempre com letra ‘caixa baixa’ à la Cummings. Insere também, numa mescla semiótica, trechos de partituras, estórias em quadrinhos, poemas; trechos de músicas de Lupicínio, Caetano, João Gilberto (músicas suas por autoria ou interpretação); tudo isso de forma caótica, desordenada, mas com um espantoso efeito unificador. Não há tensão seguida de relaxamento no texto colagem, não há ênfases; os trechos se ligam soltos, cheios de cortes internos, com se fossem versos, mas prosaicamente distendidos. Quebrando a linearidade, o autor chama atenção para as unidades que compõe a estrutura das prosas, assim como os músicos focalizados faziam com as notas e timbres da composição. Tomando um exemplo ao acaso:

“a mente de webern foi sempre radical;
partia imediatamente
para as últimas conseqüências
não há de fato, nada
na música de Webern
a não ser últimas conseqüências” (robert craft)[3]

A apropriação acima, como ‘ready made’, conferiu a ‘função poética Jakobsiana’ na mais despretensiosa fala. A nova disposição faz saltar aos olhos rimas toantes (mente/sempre); paronomásias encadeadas em (mente/imediatamente; partia/para); espelhadas (não há / na / a não); assonâncias (não há de fato nada) e o encadeamento de “últimas conseqüências”. O texto passa a ter ritmo, espaço, som! Como a música de que fala.

As considerações do autor, somadas às citações alheias, oferecem insights, não só ao entendimento da obra e das personalidades de Webern / João, como também sua inter-influência no trabalho de revalorização de Lupicínio, na antropofagia tropicalista de Caetano e na poesia verbivocovisual de Augusto. A radicalização do pouco que é muito, a nota só, sutileza, contenção, brevidade, espacialização, rigor quase obsessivo. A todo tempo isso é reafirmado de um ponto de vista diferente. Costurado também pela denúncia da indiferença que foi e ainda é, de certa forma, dada à obra do compositor Austríaco, bem como à do Gaúcho de ‘Volta’. Por tabela, também deflagra a pouca aceitação do público diante das incursões mais radicais de Caetano e da poesia concreta, constantemente acusada de difícil e distante.


























A trança de signos elaborada no ensaio/coisa começa com uma foto de Webern e Berg (acima), seguida de um trecho de Stravinsky, que a descreve: “webern, sapatos de tipo camponês, coberto de barro”. Termina com uma foto de João Gilberto, emoldurada acima por uma pergunta e abaixo pela resposta: “e o que é que isso tudo tem a ver com João Gilberto?” / “uma sílaba”. Um fecho aberto, que sugere mas não diz. Deixa pistas muito tênues impedindo uma interpretação assertiva. O que pode ser essa sílaba? É o ‘BER’, que figura nos dois nomes tematizados? É possível que ela seja parte da palavra SÍlaba, o ‘SI’, que já havia sido lançado no ponto em que Robert Craft afirma quase sempre haver sons de SIno[4] evocados na obra de Webern. Já lançado na frase/verso monóstica “SIna e Sino”; no trecho (sobre o) “assasSIno de Webern, chamado Bell (isto é, SIno)”. Em várias palavras utilizadas ao longo do texto: SIlêncio, SIgnificando, SI mesmo, imposSÍvel, impresSIonado, Simples. No fato de que a foto de João o apresenta com a cabeça curvada para dentro, apoiada num dos punhos, os braços cruzados, pensando, enSImesmado. Na movimentação SIncopada de ‘Desafinado’. Na nota ‘SI’ de ‘Samba de uma nota só’.

Tudo isso estaria colocando os artistas citados (Caetano, Lupicínio revisitado, o próprio Augusto) partindo da simplicidade dos sapatos camponês de Webern, fertilizados de invenção pelo barro que os envolve; para então levarem adiante a música nova numa espiral multisígnica que desemboca na (ou devora a) forma introspectiva ‘João Gilberto’?

Unanswered question![5]

[1] Campos, Augusto. “João Gilberto / Anton Webern” in BALANÇO DA BOSSA E OUTRAS BOSSAS (com Brasil Rocha Brito, Julio Medaglia, Gilberto Mendes), São Paulo: Perspectiva, 2005, pp312 a 331)
[2] “Em `E outras bossas`, entremeados com estudos, crônicas, comentários e entrevistas sobre música popular, estão alguns trabalhos que fiz sobre música erudita moderna, com algumas infiltrações poéticas, tudo culminando com a “coisa” que escrevi sobre Webern/João Gilberto.” (CAMPOS: 2005 p 347).
[3] Campos: 2005, p330.
[4] Grifos meus
[5] Citação de obra homônima de Charles Ives, que segundo Augusto é “uma das mais extraordinárias páginas da música contemporânea”.