Jardineiro da avenida Paulista
Meu bisavô plantou
Muita flor
E criou um roseiral
Onde não tinha cor
No tempo do preto-e-branco
Ele revolucionou
Gastou com flores seu tempo
E hoje as suas flores têm cultura
Aqui nessa antenada rua
Dessa cidade em que o café foi fermento
Através do pão viu o sol e a lua
Trabalhou dia e noite com sentimento
E até mais outros projetos, outras plantas . . .
O seu jardim está ainda mais importante
Dando outros frutos, outros futuros . . .
Mas ninguém conhece o jardineiro de antes
Chamava-se Francisco Manoel
Tio Chico Brabo
Homem que adoçava a vida com rosas
E dos espinhos, tinha as mãos grossas
No início do século passado
Ex-funcionário de Ernesto Dias de Castro
De Ramos de Azevedo
E dos Ferraz de Vasconcelos
É nesse coração financeiro
De sangue frio e calculista
Nessa artéria, avenida Paulista
Dessa São Paulo de hoje
Onde para muitos, flor não tem valor
Que ele plantou e colhe agora
Porque até hoje na nossa avenida mais famosa
Tem uma casa chamada: “Casa das Rosas”
Samba da Casa das Rosas
Jardim, periferia da casa
Meras plantas no quintal
Raízes que não se vêem
Folhas e galhos secos vem
Com o vento pra dentro num temporal
Trepadeiras se alastram por suas paredes
As entranhas da casa já ocultam sementes
Beija-flores e borboletas invadiram a sala
De noite o protesto é da cigarra
Jardim, periferia da casa
Vida ao redor da casa principal
Excludente com as flores
Do próprio roseiral
Roseiral à margem da casa
Cercando a planta do arquiteto
E quando perfume exala
Ninguém passa reto
Se estiver na estação certa
Se estiver no Paraíso
Se estiver na primavera
Centro-bairro o sentido
Entre nessa que já virou espaço público
Entre nessa que já virou espaço público
Essa casa que exemplifica bem
Como as periferias são perigosas
Já que antes as rosas eram da casa
E agora a casa é das rosas.
- O poeta e músico Fábio Don é bisneto do jardineiro que plantou as primeiras roseiras da Casa das Rosas. O ‘Samba da casa das rosas’ foi feito especialmente para o sarau.
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