uso indevido
hora do rush
calçada apinhada
pontos de ônibus
driblam
pontas de estoque
pingos de leite
adoçam
pingos de chuva
FREADA BRUSCA
susto
estrondo de guerra
ricochetes de latas e lutos
viscosidades que se misturam
a arma do crime
sai em disparada
12mai07
pelúcias
falta que faz
a vida que era
da chance
da casa sem tranca
da conta sem mora
dos contos nos cantos
falta que fez
a vida que vem
sem norte
só cortes
só dores
balaços
horrores
nem brinque
12mai07
lágrimas condensadas
“Pudim de Pão”, Asta Vanzodas
quanto doce já fiz
em meio à dor
quanta carne cortei
cheia de angústia
quanta fronha dobrei
chorando a cântaros
quanto ferro passei
a ferro e fogo
ouvi no rádio que
o amor é o melhor tempero
tem peito, essa gente
tem peito
24mar07
jardim perifa
só vim aqui pra dizê
eu tive 4 filho
3 que eu pari e o jorge,
que vivia lá em casa
um foi pro estado zunido
entregá essas coisa de delíver
um dia encheram ele de pancada disseram
só recebi um relógio quebrado
outro foi de bala perdida
tava trabalhano
como é que uma coisinha daquela
arrebenta com a cara de um
beijá aquela massa cor de sangue
só mãe pra tê estômago
nem bem parei de chorá
e vejo o otro escondendo um pacotinho
é do jorge mãe
mamou no meu peito dormiu no meu colo não podia me vê
que se agarrava na minha saia
jorge são jorge
virou a cabeça virou justiceiro virou traficante
forçô meu menino
a escondê muamba
sou mansa sou calma mas tudo tem limite peguei
joguei tudo no vaso
duas descarga
meu filho: tô morto
que morto que nada
então não valeu os banho
que dei
feijão de são benedito
cada fome uma concha
então não valeu
as história
os cuidado tô morto num dô dois dia
dois dia
entra 3 capuzado
bestêra conheço eles tudo
o jorge fuziu eu pulo na frente me voa no chão
saco imprestávi
lixo nojento
então esse foi de bala achada
ele nem pediu nem rezou
ficava me olhando
do caxão
com jeito de filho
com jeito de perdão
arrebentei o vaso
a machado custei tanto pra ter e não serviu pra nada
só vim aqui pra dizê
comprei otro
rosa nem gosto dessa cor
também comprei uma arma até que é fácil
robá um pacote
mandei recado
tô aqui sentada esperano
meu coração escuta mais
que meu zovido
ele entra
eu viro o pacote
e dô a descarga
só vim aqui pra dizê
já tô chegano meus filho
27mai07
- Maria Luiza Palhas é tradutora, dramaturga e poeta. Tem incursões na Dramaturgia com ênfase na chamada Literatura de Audioficção (textos dramatúrgicos roteirizados para suporte de áudio); traduções poéticas e poemas publicados no site ‘Cronópios’. Seu primeiro livro de poesia ‘Rompantes’ está em fase de revisão.
* O uso que os seus poemas fazem do espaço não pode ser reconstituído nesse blog.
* * *
hora do rush
calçada apinhada
pontos de ônibus
driblam
pontas de estoque
pingos de leite
adoçam
pingos de chuva
FREADA BRUSCA
susto
estrondo de guerra
ricochetes de latas e lutos
viscosidades que se misturam
a arma do crime
sai em disparada
12mai07
pelúcias
falta que faz
a vida que era
da chance
da casa sem tranca
da conta sem mora
dos contos nos cantos
falta que fez
a vida que vem
sem norte
só cortes
só dores
balaços
horrores
nem brinque
12mai07
lágrimas condensadas
“Pudim de Pão”, Asta Vanzodas
quanto doce já fiz
em meio à dor
quanta carne cortei
cheia de angústia
quanta fronha dobrei
chorando a cântaros
quanto ferro passei
a ferro e fogo
ouvi no rádio que
o amor é o melhor tempero
tem peito, essa gente
tem peito
24mar07
jardim perifa
só vim aqui pra dizê
eu tive 4 filho
3 que eu pari e o jorge,
que vivia lá em casa
um foi pro estado zunido
entregá essas coisa de delíver
um dia encheram ele de pancada disseram
só recebi um relógio quebrado
outro foi de bala perdida
tava trabalhano
como é que uma coisinha daquela
arrebenta com a cara de um
beijá aquela massa cor de sangue
só mãe pra tê estômago
nem bem parei de chorá
e vejo o otro escondendo um pacotinho
é do jorge mãe
mamou no meu peito dormiu no meu colo não podia me vê
que se agarrava na minha saia
jorge são jorge
virou a cabeça virou justiceiro virou traficante
forçô meu menino
a escondê muamba
sou mansa sou calma mas tudo tem limite peguei
joguei tudo no vaso
duas descarga
meu filho: tô morto
que morto que nada
então não valeu os banho
que dei
feijão de são benedito
cada fome uma concha
então não valeu
as história
os cuidado tô morto num dô dois dia
dois dia
entra 3 capuzado
bestêra conheço eles tudo
o jorge fuziu eu pulo na frente me voa no chão
saco imprestávi
lixo nojento
então esse foi de bala achada
ele nem pediu nem rezou
ficava me olhando
do caxão
com jeito de filho
com jeito de perdão
arrebentei o vaso
a machado custei tanto pra ter e não serviu pra nada
só vim aqui pra dizê
comprei otro
rosa nem gosto dessa cor
também comprei uma arma até que é fácil
robá um pacote
mandei recado
tô aqui sentada esperano
meu coração escuta mais
que meu zovido
ele entra
eu viro o pacote
e dô a descarga
só vim aqui pra dizê
já tô chegano meus filho
27mai07
- Maria Luiza Palhas é tradutora, dramaturga e poeta. Tem incursões na Dramaturgia com ênfase na chamada Literatura de Audioficção (textos dramatúrgicos roteirizados para suporte de áudio); traduções poéticas e poemas publicados no site ‘Cronópios’. Seu primeiro livro de poesia ‘Rompantes’ está em fase de revisão.
* O uso que os seus poemas fazem do espaço não pode ser reconstituído nesse blog.
* * *